MARTHA PONTES:
GABRIELA, UM BRILHO DE FASCÍNIO FEMININO
Quando, em 1983, documentou o onírico ballet "Gabriela", empolgada por interpretar, pela fascinante potencialidade imagística da fotografia, acomposição do movimento das perfomances dos bailarinos com as visualidades pictóricas da cenografia de Gilberto Mota e dos figurinos de Caybé , Martha Pontes não pretendia reverter sua concepção de formas de registro em motivo de uma exposição pública. Então ex-fotógrafa do "Jornal do Brasil", bem consciente da importância de comunicar incisiva, precisa e verazmente o objeto temático da imagem, interressou-a principalmente a relação estética do seu senso de reportagem com a eclética expressividade cinética do ballet, a qual poderia propiciar-lhe realizar um bem caracterizado ensaio de linguagem visual, desde as sugestões de teatralidede, de expressões corporais, intrínsecas à narrativa cênica do espetáculo.
Porém, ao rever seu trabalho agora, dez anos depois, portanto já consideravelmente distante da impressiva e contundente experiência concepcional vivenciada, Martha Pontes reconheceu que a interpretação que efetuou resultou bem consumada, válida, comunicável, não apenas como um desenvolto, coerente e seguro desempenho técnico-artesanal. Em enfoques bem procurados, intuídos, selecionados, que não excluem a dinâmica naturalidade do flagrante, a magia do espontaneísmo, a artista captou, com precisão, esmêro e perspicácia, a insólita beleza dos aspectos exteriores, imediatos, o encanto dos variantes movimentos nas situações sucessivas, rítmicas , e, principalmente, os estados psicológicos dos dançarinos, seus sensos de interpretação, suas expressividades de atores, de tipos. Tirando partido do acentuado contraste da luz com a sombra, da diferenfiada alternância de enquadramentos, ângulos e perspectivas diversificados, extremados, e que possibilitam transmitir fidedignamente a marcação da intensa ação, o seu caráter de verdadeiro ritual de interpretação, bem como a sua plasticidade quase pictórica, Martha efetivou um estilo fotográfico cuja tonalização cromática permeia entre o claro-escuro algo barroco e o preto e branco expressionista típico. É esta espécie de sincretismo de luminosidade conjugado com composições de imagens nas quais a ficção visionária, fantástica, predomina sobre a descrição objetiva, realista, é que referencia o teor telúrico, a natureza simbólica do ballet.
João Carlos Cavalcanti
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