MARIA DE LOURDES FERREIRA
Na multifacetada pintura de Maria de Lourdes Ferreira transparece consciência analítica da mutabilidade concepcional e da versatilidade formal e estilística da arte contemporânea, bem como preocupação matura de interpretá-las e exprimi-las de forma própria, independente e veraz. A condição dinâmica, orgânica e transformista da arte plástica na atualidade constitui o motivo base dos seus trabalhos, não obstante estes apresentam temas próprios, variantes e pertinentes. Relacionar vitalmente sua arte com a complexa multiplicidade de resultados, conotações, possibilidades e problemas intrínsecos à arte do seu tempo, sem, contudo, descurar a individualização da expressão do seu ponto de vista, é a meta a que Maria de Lourdes se propôs com lucidez e propriedade artesanais.
Em sua produção definida concepcionalmente e proposta profissionalmente, Maria de Lourdes revelou-se atentamente interessada em refletir o elo de condicionamento e de envolvimento evolutivo entre sua sensibilidade e a criação artística lingüisticamente funcional e comunicativamente eficaz. Desde suas primeiras xilogravuras com composições geometrizadas, simbolismo fantasista e tratamento formal cubista sintetista, até os óleos semi-figurativos e semi-abstratos, com manchas gestuais, enérgicas, emotivas, movimentadas e superpondo texturas e tons. O seu imaginário oscila entre descritivismo realístico-fantástico e visionarismo abstratizante e informalista. Esta última característica é acentuada nas concepções mais recentes, realizadas em acrílico com guache, óleo, lápis, cera, grafite e incorporando tecido. O gestualismo é intesificado em pinceladas empastadas, puras, não-figurativas e que, muito livres, ágeis e rápidas, sugerem pássaros batendo asas para alçar vôo. Nestas manchas executadas com emoção e sensorialidade, Maria de Lourdes agrega uma conotação expressionista ao seu simbolismo permeado de figuração e abstração. Suas criações, pictoricamente bem concretas, compactas e consistentes, instigam a sugestão e a evocação pela relação que estabelecem entre suas visualidade e o surrealismo.
João Carlos Cavalcanti
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