ETHEL ARAÚJO
Frequentemente a questão da representatividade formal e estilística na pintura abstrata tem causado confronto de teorias e polêmicas conceituais. É possível concluir que, desde que este gênero pictórico se desenvolveu em novas e diversificadas tendências, os artistas, críticos e historiadores de arte vem propondo orientações bem criativas e significativas e muito contributivas para a evolução desta arte não-representacional. Atualmente, quando já se apresenta com versatilidade técnico-artesanal e variedade iconográfica bem consideráveis, o abstracionismo é tão pesquisado e incrementado concepcionalmente quanto o é o seu antípoda figurativismo. Aeste respeito, as recentes realizações demonstram o estilo sendo não só ampla e ilimitadamente cultivado, mas intensa e densamente formulado.
Atenta à realidade atual da abstração e muito consciente da importância de se prosseguir a cultura morfológica e a afirmação semântica desta forma de expressão, Ethel Araújo se engajou na causa pró-abstracionismo com determinação, lucidez e senso de posicionamento. A sua produção já revela propriedade técnica na fatura da imagem, convicção na proposta concepcional e consciencioso profissionalismo na definição do conceito do estilo. À sua natural e originária sensibilidade para o colorismo vibrante, veemente e contundente, extrovertida com gestualismo espontâneo e emocional, Ethel Araújo acrescenta a expressividade da matéria e da textura obtida pela junção do pigmento pictórico procurado com a visualidade do produto industrial selecionado. O resultado é a composição simbolizando a integração da experiência e criatividade do artista com as irrestritas possibilidades de subsídios sugeridas pela tecnologia industrial.
Os trabalhos de Ethel são uma espécie de metáfora da visão do artista contemporâneo, que simultaneamente se defronta com manchas, grafismos e tonalizações cromáticas nos espaços e superfícies urbanos, causados pela ação do tempo, da poluição e do próprio citadino, e com a ostensiva presença da produção industrial.
João Carlos Cavalcanti
RJ, dezembro de 1990.
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