Brasão

> Vice Reitoria Acadêmica > Solar Grandjean de Montigny > Exposições 1997 >

Exposição

LÚCIA AVANCINI E SONIA TUNAY

Lúcia Avancini

                             Lúcia Avancini
                             S/título
                             Acrílica s/tela
                             100 x 200
                             1994

Sonia D.Taunay

                             Sonia D.Taunay
                             S/título
                             Técnica acrílico e vinílica s/tela
                             1.20cm x 1.40cm
                             1993

Voltar



        LUCIA AVANCINI E SONIA TAUNAY

        Cor e Plasticidade em dobro

        "Há pessoas que pensam que o acaso é o pai do desenho e das artes. É mais pertinente dizer que o acaso propicia a oportunidade para o desenho, para as artes, e não os seus princípios. Porque é necessário ao desenho, quando obtém da inteligência a criação da imagem, uma mão eficiente e apta, graças a anos de exercício, para conformar e exprimir a aparência natural do objeto com a pena, o estilete, o carvão ou lápis". Esta consideração de expressão do desenho, além de manifestar um elogio da mão do artista "igual e rival do seu pensamento", também revela a consciência de que as propriedades intelectuais do desenho descartam o aspecto difuso, fortuito, "impossível" na imagem. Nesta reflexão que Vasari formulou em 1550, em plena Renascença, quando os artistas em Florença valiam-se do recurso de acentuar os fundos de cores para suprir o desenho de eficácia iconográfica e fortalecê-lo com expressividade pictórica, percebe-se a idéia de que a representação artística é, fundamentalmente, esforço supremo do gênio humano contra o acaso.

        Não obstante a importância construtiva e estrutural do desenho na configuração da plasticidade da imagem, no entanto, em algumas concepções de pintura ele não é privilegiado com uma função orgânica realmente primordial, prioritária e determinante na composição. Em geral, a organização da correlação das formas com os planos e com os espaços na totalidade do quadro demonstra o delineamento gráfico como componente considerável da iconografia. Porém, nem sempre o delineamento gráfico desempenha o papel decisivo na concepção da representatividade ou expressividade. Com a pintura moderna, particularmente com o impressionismo, o pós-impressionismo de Cézanne, de Bonnard, de Vuillard, o fovismo, o expressionismo e os abstracionismos mais recentes, foi eliminado o convencionalismo praticamente arquetípico do delineamento gráfico como origem,fonte, antecedente ou alicerce da pintura. O desenho ora não é empregado, ora resulta extremamente secundário, e, neste último caso, é revertido em grafismo ou mancha com o único pretexto de tornar relevante a sua cor. A pintura moderna, desencadeada em meados do século 19, e ensejando a prioridade das cores, das suas gradações de tom, das suas interrelações, sobre o desenho, criou uma espécie de imagem essencial, de síntese, algo simbólica, que operou a extinção da exclusividade do desenho como tessitura ou suporte da composição.

        Evidenciando morfologias de linguagem bem distintas, as pinturas de SÔNIA TAUNAY e as de LÚCIA AVANCINI, no entanto, têm em comum a utilização sobretudo da cor intensificada, em detrimento do desenho, para caracterizar as visualidades das suas respectivas composições e definir-lhes a plasticidade. Tanto nos trabalhos de Sônia Taunay, como nos de Lúcia Avancini, a proposta de conceituação do abstracionismo denota a impossibilidade do resultado formal casual, acidental, e a não-supremacia do desenho, enquanto estruturação, com relação à cor. Esta, nas duas propostas, predondera inteiramente como solução estilística.

        Nos trabalhos de Sônia, o desenho praticamente inexiste. E assim é intencionalmente. O que aparenta ser forma ou figura geometrizada, racionalisticamente desenhada , na verdade, não o é. Trata-se, sim, de meros recursos de delimitação de espaços de cor interativos. Os retângulos paralelos, delgados, verticalizados, hieráticos, bem como os quadrados dispostos simetricamente, não decorrem da necessidade de inserção da linha, ou do componente formal fechado, na iconografia. Os seus aspectos morfológicos, seus descritivismos gráficos, não importam tanto na constituição da integridade visual do quadro. Esta é consequente da maior logicidade do emprego do contraste cromático como vetor da comunicabilidade da imagem. As cores são densas, incisivas, absorventes; são mais pesquisadas e mais elaboradas do que os formatos das figuras, e , portanto, elas instigam mais a contemplação, a apreensão do quadro. Daí a proximidade dos trabalhos de Sônia com os princípios da estética do minimalismo essencialista, do seu despojamento imagístico.

        Nas sucintas composições de Lúcia, o desenho é escasso, conciso, porque está restrito ao indispensável, ao estritamente necessário para simbolizar a ruptura com qualquer referência ao real convencional ou à figuração predeterminada. As linhas são traçadas confluindo e separando-se somente para sugerir o rompimento do vínculo com todo preconceito concepcional imposto, estereotipado, com qualquer tema excessivamente tradicional, ortodoxo, conservadorista. Contrastando com o sintetismo e a essencialidade do desenho, as cores exprimem liberdade, individualidade no criar, pois são pujantes, calorosas, vigorosas, vibrantes, ou suaves, líricas, sutis, revelando procura de tonalização, de gradações, de nuances, de dosagens harmoniosas de transparência e luminosidade. Na medida em que geram o vigor, o viço pictórico da imagem, as cores muito tonalizadas, bem mais que o desenho flexível, sinuoso, concretizam a plasticidade.

João Carlos Cavalcanti

Voltar

JOÃO CARLOS CAVALCANTI

Solar Grandjean de Montigny - Centro Cultural da PUC-Rio
E os artistas:
Aída Boal
Aloysio Novis
Antônio Carlos Vieira
Cristina Padão Gosling
Elso Arruda Filho
Ethel Araújo
Lauro Cesar Jardim
Lúcia Avancini
Maria de Lourdes Ferreira
Martha Pontes
Ricardo Newton
Sandra Passos
Sebastião Rodrigues
Sônia Taunay

Solar Grandjean de Montigny
Museu Universitário
Rua Marquês de São Vicente, 225 - Gávea | RJ
Telefone: 21 3527-1435
Tel/fax: 21 3527-1434
e-mail: solargm@puc-rio.br
www.puc-rio.br/sobrepuc/depto/solar

Entrada Franca