LAURO CESAR JARDIM
A característica essencial do estilo abstracionalista de pintura é a sua incomensurável potencialidade iconográfica, a qual possibilita amplamente ao artista organizar diferentes formas e contrastantes cores em composições infinitamente variantes, novas, originais. Seja na direção do excesso de recursos técnico-artesanais, da saturação de componentes imagísticos, como é o caso dos informalistas expressionistas gestuais, que sobrecarregam suas obras com diversificadas soluções de linguagem, incluindo desde os empastamentos e texturas bem energizados aos grafismos repletos de emoção, seja na orientação do sintetismo essencialista comportando apenas os elementos formais e estilíticos fundamentais e imprescindíveis, como é o caso dos minimalistas ou concretistas, cujas concepções primam pela economia de desenho, forma e cor, a abstração sempre propiciou ilimitada dimensão de criação. E esta primordial propriedade do abstracionismo realmente tem sido assimilada e desenvolvida pelos artistas com resultados incontestavelmente exponenciais e admiráveis.
Ao decidir filiar-se ao imagismo não-representacional e conceber composições que exprimem esta peculiaridade do estilo de facultar imensurável liberdade de inventiva, Lauro Cesar Jardim optou pela vertente que julgou ser a mais conforme com seu conceito de total e pela abstração: a pintura integralmente depurada de virtuosismo técnico e de histrionismo formal. Concepcionalmente identificado com a tendência minimalista de pintura, Lauro Cesar Jardim, coerente com a proposta deste gênero, aboliu dos seus trabalhos fórmulas de retórica de efeito ilusionista, sedutor e artificiosidades técnicas superflúas desnecessárias. Em seus quadros, marcados principalmente por apropriada concisão de desenho, cor e composição, inexiste a policromia excessivamente tonalizada e a profusão de linhas definidoras de formas e de espacialidade. A justa harmonização de praticamente uma só cor com uma linha oblíqua ou uma sugestão de figura geométrica e fragmentos de materiais industrializados, contrastando com a tradicional expressividade do pigmento pictórico, constitue a contribuição de Lauro Cesar Jardim para a representatividade da arte abstrata.
Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1990.
João Carlos Cavalcanti
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