Pular para o conteúdo da página
Brasão da PUC-Rio

Licenciaturas

Matérias especiais

Bolsas Integrais e Prática nas Escolas
Programas Pró-Licenciatura e Iniciação à Docência apoiam formação de talentos para a educação básica brasileira

Por Renata Arruda Ratton – Assessora de Comunicação da Vice-Reitoria Acadêmica

Coordenadores e bolsistas reunidos na cerimônia de abertura do Pibid - edital 2013. No detalhe, o Vice-Reitor Acadêmico, José Ricardo Bergmann, e a Coordenadora de Licenciaturas Maria Rita Salomão

Os primeiros colocados, do Vestibular e do Enem, de cada um dos programas de licenciatura da PUC-Rio, receberão, a partir de 2015, um estímulo adicional: as bolsas do programa Pró-Licenciatura, concedidas pela Vice-Reitoria Acadêmica, passarão a ser integrais (100%). Serão distribuídas oito bolsas por licenciatura, quatro para os candidatos classificados até o 10º lugar, no concurso Vestibular, e quatro para os classificados até o 10º lugar no Enem.

Para o Vice-Reitor Acadêmico, José Ricardo Bergmann, a iniciativa visa à captação de talentos: “A formação de professores é objeto de constante preocupação dos Sistemas de Ensino e um dos maiores desafios à Educação no Brasil. A Universidade está alinhada com essas questões e quer auxiliar o País a aprimorar seus quadros de educação básica”, sublinha.

Criadas em 2006, as bolsas Pró-Licenciatura, junto à participação da Universidade no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, Pibid, refletem as diretrizes da PUC-Rio no sentido de incentivar a formação de quadros de alto nível.

O Pibid é uma iniciativa da Capes (MEC) voltada ao aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a Educação Básica. A PUC-Rio participa do Programa desde 2012, nas áreas em Ciências Sociais, Filosofia, História, Geografia, Letras (Português e Inglês) e Pedagogia. Alunos dessas licenciaturas participam de projetos de iniciação à docência, em parceria com escolas de educação básica da rede pública de ensino, recebendo, atualmente, bolsas de R$400,00 (quatrocentos reais).

Segundo a Coordenadora de Licenciaturas, e do Pibid, da Vice-Reitoria Acadêmica, professora Maria Rita Passeri Salomão, além do estímulo financeiro, a inserção dos ‘pibidianos’ nas escolas públicas, desenvolvendo atividades didático-pedagógicas, sob a orientação de um docente da licenciatura (coordenador de área) e de um professor da escola (professor supervisor), aproxima a teoria da prática:

— A interação proporciona oportunidades de atuação criativa, pela participação em experiências metodológicas inovadoras. Por outro lado, a Universidade incentiva as escolas públicas de educação básica, mobilizando seus professores como formadores dos futuros docentes, resgatando e valorizando a missão fundamental da profissão, sublinha Maria Rita.

Interação, troca, intermediação, imersão. Com o suporte de professores da Universidade, jovens motivados vivenciam o cotidiano das salas de aula da rede pública, desde os primeiros anos de suas licenciaturas, minimizando o choque da entrada abrupta na escola e oxigenando o ensino tradicional com sangue novo e boas práticas.

Professores que acreditam na docência junto a práticas catalisadoras do saber, que adaptam o conteúdo curricular aos contextos de vida e à capacidade de aprendizagem dos alunos, garantem o sucesso dos projetos, que, em 2014, multiplicaram o número de participantes.

Nos depoimentos dos integrantes do Pibid PUC-Rio o tom é o mesmo: uma visão otimista acerca do magistério aliada à urgência em formar profissionais dedicados, proativos e seguros dos conteúdos ensinados e das práticas implementadas.

A atuação dos alunos bolsistas se dá no auxílio aos professores supervisores, mas envolve discussões sobre o planejamento do curso, elaboração conjunta de planos de aula, proposição de materiais e atividades extracurriculares.


As Letras e a prática exploratória

Painel elaborado por alunos e professora da escola com as primeiras impressões sobre o projeto Pibid. Detalhe: auto-retrato e impressões da bolsista Júlia Interlenghi

“Uma forma de dar aula em que o principal objetivo é buscar a qualidade de vida na classe. Dividir com os alunos a missão de construir o conhecimento traz um ânimo novo”. Assim define a prática exploratória, no universo das Letras, a coordenadora do projeto Letras/Inglês, professora Inês Miller.

Inês e sua equipe trabalham a prática, através do Pibid, na Escola Municipal São Tomás de Aquino, em total sinergia com o projeto Letras/ Português, que tem à frente a professora Beatriz Barreto. “A gente divide os alunos em grupos e vai fazendo um trabalho reflexivo integrado ao conteúdo das aulas”, explica Inês.

Em uma das práticas, por exemplo, os apelidos usados entre os alunos – questão pulsante nas salas de aula – foram tratados na forma de painéis, e classificados em três categorias: cute, para os carinhosos; ofensive, para os ofensivos, e useful, para os que auxiliavam na identificação do apelidado. “Estavam sendo trabalhados conteúdos relacionados a denominações de membros da família, foi uma forma de utilizar a língua estrangeira para abordar a questão dos apelidos”, complementa.

As primeiras impressões sobre o projeto, por parte dos bolsistas, alunos das escolas e professores também foram objeto de produções bilíngues em painéis. As coordenadoras destacam ainda a surpreendente contribuição dos bolsistas introduzindo a prática exploratória a professores que a desconheciam.

Anna Paula Bezerra da Silva e Annyelle Araújo, alunas do segundo período de Português/Inglês, estão no programa há apenas dois meses, mas já o descrevem como uma experiência boa e intensa. “Eu vim de escola pública, a realidade dos alunos eu já conhecia; agora estou vendo o lado do professor, o desafio que é ensinar, reconhece Anna Paula.

Annyelle enfatiza a cumplicidade dos bolsistas com os alunos como uma ponte para o aprendizado:

— Sempre tive a ideia de que inglês era muito difícil... Outro dia uma aluna da escola me disse que tinha medo que a corrigissem. A gente tenta quebrar essa barreira com eles. Na minha época, o inglês não era interessante. A gente matava aula porque só via o verbo to be. Se já existisse o Pibid, teria sido muito diferente, revela.


Uma Geografia muito além do currículo

Bolsistas do Pibid trabalham as eleições no George Pfisterer

Tratar do distanciamento entre a academia e o ensino escolar – revelado pela insegurança de um recém-formado frente à sua nova turma ou pela falta de visão da utilidade da Geografia pelos alunos da escola – é o objetivo principal do projeto Pibid da Geografia.

— Ficávamos preocupados com o diálogo entre a produção do saber científico e o cidadão comum, no nosso caso, o aluno, para quem a nossa tarefa é mostrar as possibilidades que a Geografia oferece em termos da compreensão do real, explica a professora Rejane Rodrigues, coordenadora do projeto, junto ao professor João Luiz Silva, na Escola Municipal George Pfisterer.

Neste sentido, as eleições de 2014 constituíram uma grande oportunidade para trabalhar uma atividade extracurricular envolvendo todas as séries: no projeto eleições, formalmente chamado de Representação Política no Brasil, turmas do 6º ao 9º ano abordam uma temática relacionada aos respectivos conteúdos curriculares.

— O objetivo da dinâmica foi despertar, nos alunos, o interesse para a política, e prepará-los para participar de uma forma crítica e consciente. Nos relatos dos bolsistas, a visão de descrédito dos políticos cedeu lugar à empolgação, conta Rejane.

Os alunos do sexto ano estão mapeando os distritos eleitorais - já que sua matéria principal é a Cartografia. O sétimo ano está trabalhando as plataformas dos presidenciáveis; o oitavo, as escalas de poder, e o nono, a propaganda política.

Ao final do processo, apresentações utilizando cartazes e vídeos serão feitas a todas as turmas, como forma de socializar o conhecimento com as que não participam do Pibid.


O tempo da Pedagogia

Na Educação Infantil, o despertar para a percepção do tempo

Antes das horas e do calendário, o tempo é a rotina, é entender o que vai acontecer: a hora do banho, a hora do almoço, o tempo da criança. Já no ensino fundamental, tem início o tempo da História, da cronologia, dos fatos.

Ambos os tempos têm que ter o seu tempo, a sua atenção e a sua compreensão. É disto que trata o projeto Pibid da Pedagogia em 2014, da Orientação Tempo-História, transitando nesses dois momentos da educação básica junto às turmas da Escola Municipal Sergio Vieira de Melo, sob a coordenação das professoras Zena Eisenberg e Patrícia Coelho.

A questão do tempo foi motivada não apenas por uma coincidência de interesses de estudo das coordenadoras, mas principalmente para tirar a atenção restrita à alfabetização e ao cálculo matemático, revelando um aspecto de fundo, mas fundamental à organização do pensamento e da vida escolar.

— Na educação infantil, a organização da vida é a rotina. As crianças entendem o que vai acontecer, ficam tranquilas sabendo o que esperar do dia, comenta Zena, que tem, no tempo, o objeto de suas pesquisas científicas; já nos Estudos Sociais, no ensino fundamental, é importante estimular a percepção do tempo como elemento de construção do conhecimento histórico, observa Patrícia, atuante na área de História da Educação.

Em um primeiro momento, os bolsistas foram orientados a dirigir sua observação para as atividades desenvolvidas na escola a respeito da temporalidade, para, em seguida, começar a criar, em parceria com os professores supervisores, situações de incentivo à construção de noções temporais pelos alunos, através da exploração do cotidiano. “Na educação infantil, por exemplo, são abordados importantes conceitos do desenvolvimento, tais como sequência, simultaneidade, duração, dias da semana, sublinham.

Os alunos bolsistas elaboram, em conjunto com a professora, atividades mensais. Elas procuram inseri-los na dinâmica da profissão. “Eles realizam as atividades, o processo é documentado, por intermédio de filmagens, e analisado, posteriormente, por nós, coordenadoras, em conjunto com uma das professoras da escola e os grupos de alunos bolsistas”, esclarece Zena. E continua:

— A gente analisa o desempenho do aluno, o interesse das crianças em atividades que duram em torno de 40 minutos. As críticas são intensas, mas construtivas, e os alunos têm a possibilidade de repetir as atividades, aperfeiçoando sua atuação”.

Segundo as coordenadoras, os ‘pibidianos’ estão amadurecendo, compromissados, trazem dúvidas, participam das discussões. A admiração que criam pelos professores das escolas é outro aspecto notável para ambas.


O cotidiano nas Ciências Sociais

“A Sociologia tem seus teóricos, mas sobretudo está presente no dia a dia, tal como a Matemática, mas de uma forma diferente”, observa o professor Luiz Fernando Pereira, coordenador do projeto Pibid das Ciências Sociais, que tem como objetivo levar a visão sociológica ao cotidiano dos alunos do ensino médio dos colégios estaduais Antônio Maria Teixeira Filho e André Maurois.

O que se busca vai muito além da interação com os professores supervisores no desenvolvimento de atividades dentro e fora da sala de aula, assim como de ferramentas didático-pedagógicas:

— Queremos cativar o aluno da escola para que tenha um olhar sociológico de desconstrução da realidade. Que ele desnaturalize uma realidade muitas vezes dura, que parece imutável, e possa trabalhar uma visão crítica, fundamentada pelo conhecimento teórico, sobre a forma como, por exemplo, percebe a entrada da polícia na comunidade onde mora, ou sobre a intolerância, a homofobia, esclarece o professor.

Por outro lado, as discussões dos alunos com os bolsistas do Pibid têm desmistificado a distância a que imaginam estar de uma universidade:

— Eles começam a desfazer a noção da impossibilidade do acesso e a vislumbrar um caminho universitário, o que, em si, é uma questão sociológica; muitas vezes, os alunos das escolas olham com um certo ceticismo a entrada em uma graduação. Eles precisam ampliar seu alcance cultural, através da Sociologia, e perceber a existência de janelas de oportunidade. Também é um ganho excepcional para a Universidade estar presente nas escolas, sublinha.

Exposições de fotografia, colagens sobre temas demandados pelos alunos dos colégios integram as tarefas desenvolvidas pelos bolsistas do Pibid, que procuram fazer com que as dinâmicas, os debates não fiquem restritos à sala de aula e integrem os alunos das diversas turmas, embora haja abordagens distintas para cada um dos anos.

“No primeiro ano, buscamos focar na questão emocional, considerando a transição do ensino fundamental para o médio; no segundo ano, o debate e o entendimento de questões cotidianas; já no terceiro, buscamos um olhar para novos horizontes, mostrar a importância e a viabilidade de seguir uma carreira, incluindo a de professor”, descreve Luiz Fernando.

Outro exemplo de destaque da atuação dos bolsistas é o apoio à realização do projeto África.

O projeto África é realizado durante a Semana da Consciência Negra, em cumprimento à obrigatoriedade do ensino da História da África nas escolas. A ideia da inserção do projeto na semana é contribuir com sua produção.

Em 2013, o evento apresentou costumes, hábitos, culinária, vestimentas dos países do continente africano. Através de palestras, debates e exposições, buscou-se desfazer a visão do exótico e entender sua forte influência sobre o Brasil.


O tecido da História

Só é professor aquele que possibilita ao aluno aprender. O que parece óbvio, muitas vezes não acontece no processo ensino-aprendizagem, e essa talvez constitua a mais importante questão levantada pelo projeto Pibid da História, sob a coordenação do professor Ilmar Rohloff de Mattos, realizado junto à Escola Municipal Christiano Hamann.

— Para o professor, quaisquer que sejam as respostas às perguntas “Por que ensinar História?” “Aprender História para quê?” ou “Como formar um professor de História?”, quase todas elas têm em comum o fato de sublinhar a importância que se atribui à disciplina escolar. No entanto, também está aí revelada a relação indissociável entre o ato de ensinar e o de aprender, onde se destaca o diálogo cotidiano e sempre renovado entre professor e aluno, por meio de uma prática insubstituível, a aula de História, esclarece Ilmar.

O professor cita o historiador francês François Furet, “Fazer história é contar uma história”, para estabelecer uma estreita ligação entre a pesquisa e o magistério. “Alguns contam histórias para seus leitores por meio de textos escritos, elaborados a partir de pesquisa teórica e documental. São os historiadores. Outros contam histórias por meio de um texto, um ‘tecido’ diferente, a aula”. Preocupados com o envolvimento de sua audiência - os seus alunos - os professores de História são autores de suas aulas, produtores de um texto não necessariamente escrito.

— No Pibid, nós trabalhamos com um pressuposto que eu chamo de aula como texto. O professor lida com os grandes historiadores, com os textos didáticos, paradidáticos, com documentários cinematográficos, e traduz todo esse conhecimento para a realidade e o alcance do aluno. Eu revisito a história, o passado, para entender as questões que o hoje coloca. Não é à toa que não existe mais um programa fechado, mas sim diretrizes curriculares. É a vida do aluno que coloca as questões pertinentes. O professor adequa os conteúdos às questões que a sociedade impõe, sublinha.

Através de discussões e de práticas como jogos, visitação a museus – com produção e roteiro elaborados pelos bolsistas do Pibid, que também desenvolvem pequenas narrativas de cunho didático -, os alunos do 6º ao 9º ano têm a oportunidade de lidar com questionamentos em torno de temas como o preconceito e a intolerância, pelo viés histórico. Exemplos negativos do passado podem, muitas vezes, se converter em práticas positivas no presente.

Para Ilmar, tão ou mais interessante do que aluno saber que os escravos trabalhavam nas lavouras de café, é que ele entenda o cotidiano daquele escravo, a relação com os senhores de engenho, mostrando que os maus tratos podiam se dar muito mais no plano simbólico, sufocando a autoestima. “É a violência simbólica, são as marcas da escravidão”, reflete o professor, comentando que é possível usar uma aula sobre a doutrina calvinista para discutir a intolerância religiosa, extremamente presente no cotidiano dos pátios escolares.

— Não é fazer uma militância, mas criar uma reflexão crítica por parte dos alunos, em médio e longo prazo. É um trabalho em grupo, é aprender a ouvir para poder falar. Qualquer um de nós é dotado de sensibilidade para viver e entender a História em suas diferentes manifestações. É só deixar aflorar.


A memória da Filosofia

O professor Edgar Lyra ministra palestra sobre a Grécia Antiga para bolsistas e alunos e professores da escola

Com o retorno da obrigatoriedade da disciplina Filosofia no ensino médio, desafios foram impostos no sentido de inseri-la adequadamente na grade curricular.

Dificuldades para adaptar a linguagem acadêmica ao adolescente, cujo ritmo acelerado contrasta com o tempo da reflexão filosófica, ou para gerar memória e manter uma linha de continuidade com alunos que têm uma limitada quantidade de horas-aula de Filosofia fazem parte do cenário que vem sendo trabalhado pelo coordenador Edgar de Brito Lyra Netto e sua equipe de bolsistas no Colégio Estadual Visconde de Cairu.

— A realização de projetos tem sido uma boa solução, entre eles a Semana de Filosofia, promovida pelo segundo ano. A semana tem um papel estratégico porque funciona como uma espécie de horizonte, durante todo o tempo que a antecede – nas discussões sobre o tema – permanecendo viva nas análises posteriores. Os professores capitalizam o êxito até onde é possível a memória dos alunos chegar, revela o coordenador.

Para Edgar, colocar a semana no horizonte imaginário dos alunos funciona para minimizar o pouco tempo de sala de aula. “Em torno da semana, são geradas listas de discussão no Facebook, comunicações extraclasse de toda a ordem, enfim, vão se constituindo pequenos grupos em torno dos bolsistas. Com isso, se consegue uma dilatação da convivência”.

O coordenador conta que, na escola, existe um hall, no primeiro andar, que é o ponto de encontro dos alunos. É nele que se arma uma exposição – grandes murais com produção de textos, fotografias – que serve como pano de fundo às diversas atividades da semana e fica montada até o final do ano.

Estratégia comum a todos os projetos Pibid, os temas trabalhados nas semanas e no cotidiano dos alunos do colégio resultam de suas escolhas, como forma de aproximar o conhecimento da realidade. O tema da semana de 2013 foi Faces Filosóficas da Violência.

— Quando chegamos à escola, realizamos uma pesquisa de campo, circulamos questionários, e recolhemos a ideia de que a Filosofia não tinha a menor relação com o que eles viviam.  Nossa meta, então, foi trabalhar para mostrar que a Filosofia, querendo ou não, faz parte da vida; que o conhecimento filosófico pode irrigar quaisquer debates, tornando-os muito mais interessantes.

A Semana da Filosofia de 2013 se realizou em três dias. No primeiro, pesquisadores da Universidade, junto aos integrantes do Pibid e ao professor supervisor, promoveram dinâmicas abordando violência social e política, violência religiosa e violência pessoal; no segundo dia, um professor de Filosofia convidado proferiu palestra sobre a Ontologia da Violência, “em linguagem acessível aos alunos”.

No terceiro dia, que Edgar destaca como o mais bem-sucedido, os alunos do colégio apresentaram a sua própria percepção da violência. As percepções individualizadas foram anteriormente documentadas pelos bolsistas, e geraram fotos, textos, críticas, e até apresentações de música.

— Uma aluna da escola disse que a maior violência feita hoje em dia é a violência ao olhar, “que o mundo tornou as pessoas cegas”. Uma bolsista a indagou como isso poderia ser dito filosoficamente, ao que ela respondeu: “Essa escola, por exemplo, ninguém olha para essa escola. Mas eu posso mostrar que essa escola comporta outros olhares”. Isso foi feito através da fotografia, relata, entusiasmado, o coordenador.

O tema de 2014 é Arte e Política e a ideia é trabalhar essa interface. “Qual o potencial político da arte e em que medida a política precisa ou pode conviver harmonicamente com a arte?”

O primeiro dia do evento será marcado por um debate político, só que os candidatos serão Aristóteles, Maquiavel, Kant, John Rawls e John Locke, cada um representado por um grupo de alunos. “John Locke é o pai do Liberalismo. Já Maquiavel prezava o Estado forte. Vamos ver no que dá”, diverte-se Edgar. Em seguida ao debate, haverá uma votação, e um dos pensadores será eleito.

Para o segundo dia, que também contará com palestras, está prevista a encenação de uma peça com os alunos, organizada por uma ex-bolsista do Pibid que hoje trabalha como voluntária. A peça, de cunho filosófico, busca estabelecer um diálogo com o teatro grego, alinhada com o principal conteúdo do primeiro ano, a passagem do mito ao logos. “O aluno geralmente gosta muito do aspecto mitológico, que resvala para a questão da tragédia, eternizada por Ésquilo, Sófocles e Eurípedes”, sublinha o professor.

O último dia vai explorar as habilidades artísticas dos alunos e suas concepções sobre o lugar da expressão artística no mundo.

— Eles têm um pendor natural para tocar violão, para fazer grafite, rap, mas o que eles não fazem é dar uma legitimação filosófica para suas manifestações. Queremos suscitar uma discussão em cima das manifestações artísticas, questionar qual o seu lugar, a proposta da manifestação, ancorando-a num argumento filosófico. Tem teoria embarcada. O que é arte, quais seus critérios.

Outra iniciativa bem-sucedida junto ao colégio foi uma palestra sobre a Grécia Antiga, promovida pelo coordenador para alunos e professores, em visitação à PUC-Rio. Com o auxílio da Universidade, Edgar havia apresentado um trabalho em Olímpia, durante congresso na área de Filosofia da Tecnologia.

— Tirei cerca de 800 fotos e montei uma apresentação com o intuito de materializar o conhecimento filosófico, através de uma viagem pela Grécia. Eles viram as escavações do Liceu de Aristóteles, a prisão onde Sócrates, supostamente, passou seus últimos dias... É mais uma estratégia para manter viva a memória da Filosofia.