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Livre do conceito de esboço, o desenho moderno rompe com a tradição clássica e evolue para uma autonomia importante, com forma e expressão próprias, integrantes e completas, não mais um arcabouço na formação pictórica.

Os desenhos dos anos 80 que Jacque Kalbourian nos mostra nesta exposição, seguem esses preceitos e, como obras únicas e completas, são a tradução direta da mais pura emoção do artista, evocada nas figuras e situações dramáticas que impactam ao primeiro olhar.

O espectador é capturado por signos que o interrogam com veemencia desnudando o que existe de mais profundo e trágico na imaginação de cada um. Cada linha traçada desvela uma implosão de sentimentos íntimos, elementos instantâneos de lembranças, de estados de alma, de sombras e de formas.

Na década de 90, ao mesmo tempo em que trabalha com pinturas gestuais e de grandes formatos, cria um desenho comedido, meticuloso e rigoroso onde a maestria do traço e a destreza da mão modelam luminosidade na folha branca do papel.

Num misto de angustia e lirismo, desenha muros-limites incorporados na penumbra da perturbadora atmosfera de pequenas igrejas pré-românicas, o que não deixa de evocar as palavras de Leonardo que recomendava aos artistas que olhassem com atenção as manchas e fendas de velhas paredes.

Piedade Epstein Grinberg
Diretora