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LÍNGUA
PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - todos os cursos
Prova discursiva realizada no dia 10/07/2004
Texto 1
Texto 2
Texto 3
Texto 4
Observação: Para
todas as questões encontram-se respostas corretas; outras respostas
poderão, no entanto, ser aceitas, desde que atendam às especificações
dos enunciados.
Texto 1
O sonho de Penélope
Neste fragmento da Odisséia, texto épico de Homero
que narra o retorno do herói Ulisses à sua terra
depois da guerra de Tróia, Penélope, esposa de Ulisses,
pede a um interlocutor que a ajude a compreender um sonho que
tivera:
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1
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Ouvi meu sonho e vede o que significa. Havia
vinte grandes gansos que saíram da água para comer.
Senti um calor no coração quando os vi. Mas uma
águia das montanhas desceu, quebrou-lhes o pescoço
com suas garras recurvadas e matou-os. Eles ficaram estendidos
no chão enquanto a águia subia ao céu.
Eu gritei, no sonho, quero dizer, e uma multidão de mulheres
ajuntou-se em torno de mim, enquanto eu
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5
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chorava amargamente porque a águia
matara meus gansos. A águia voltou, pousou numa viga do
telhado
e falou-me com voz humana: "Toma coragem, filha do famoso
Icários! Isto não é sonho, mas uma visão
do bem que certamente será cumprido. Os gansos são
aqueles que te fazem a corte e eu, que era antes
uma águia, sou agora teu próprio marido, e trar-lhes-ei
uma morte terrível. Então acordei e vi os gansos,
como sempre pastando entre o trigo.
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Ao ouvi-la, o interlocutor responde:
Nobre dama, é impossível interpretar o sonho
de outra maneira, uma vez que o próprio Ulisses te disse
o que ele significava. A morte virá para os que te cortejam,
não resta dúvida: eles morrerão e nenhum
escapará.
(Homero. A Odisséia (em forma de narrativa).
Rio de Janeiro: Ediouro, 7a. edição)
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Texto 2
O sonho do filho de Freud
Para ilustrar sua tese de que os sonhos muitas vezes revelam
desejos, Freud narra o seguinte sonho de seu filho:
Meu filho mais velho, então com oito anos, [...]
sonhou que estava andando de carruagem com Aquiles e
que Diomedes era o condutor. Como se pode imaginar, ele ficara
excitado na véspera com um livro sobre as
lendas da Grécia, dado a sua irmã mais velha.
(Freud, S. A interpretação dos
sonhos, Rio de Janeiro: Imago, 1987)
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Questão
01
a) Freud e
o interlocutor de Penélope assumem posições distintas
quanto ao significado dos sonhos. Explique
com suas palavras essa diferença.
Resposta:
a)
No Texto 1, o intérprete toma o conteúdo
do sonho de Penélope como indício de fatos que acontecerão
no futuro, isto é, como um presságio. A julgar pelas informações
que nos são dadas no Texto 2, deduz-se que Freud,
por outro lado, toma o sonho de seu filho como um indicador dos desejos
fantasiosos do menino.
b) A que se
referem os pronomes sublinhados nos seguintes fragmentos retirados no
Texto 1?
Mas uma águia
das montanhas desceu, quebrou-lhes o pescoço com suas garras
recurvadas e matou-os. (Linha 2)
lhes: _______________________________________________________________________________________
Isto
não é sonho, mas uma visão do bem que certamente
será cumprido. (Linha 6)
Isto: _______________________________________________________________________________________
Resposta:
b)
lhes: O pronome se refere aos vinte gansos (isso fica claro
se reescrevermos a oração sem o pronome: quebrou o pescoço
dos vinte gansos)
Isto: O pronome se refere a todo o sonho narrado anteriormente
por Penélope.
Questões:
01
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Texto 3
Idéias Íntimas
(Fragmento)
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Oh! ter vinte anos sem gozar de leve |
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Perfumada visão romper a nuvem, |
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A ventura de uma alma de donzela! |
15 |
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras |
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E sem na vida ter sentido nunca |
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O alento fresco e leve como a vida |
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Na suave atração de um róseo
corpo |
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Passar delicioso... Que delírios! |
5 |
Meus olhos turvos se fechar de gozo! |
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Acordo palpitante... inda a procuro; |
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Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas |
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Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas |
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Passam tantas visões sobre meu peito! |
20 |
Banham meus olhos, e suspiro e gemo... |
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Palor de febre meu semblante cobre, |
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Imploro uma ilusão... tudo é silêncio! |
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Bate meu coração com tanto fogo! |
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Só o leito deserto, a sala muda! |
10 |
Um doce nome os lábios meus suspiram, |
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Amorosa visão, mulher dos sonhos, |
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Um nome de mulher... e vejo lânguida |
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Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto! |
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No véu suave de amorosas sombras |
25 |
Nunca virás iluminar meu peito |
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Seminua, abatida, a mão no seio, |
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Com um raio de luz desses teus olhos? |
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(AZEVEDO, Álvares. In: Poesias escolhidas.
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Rio de Janeiro: Aguilar, 1971, p. 129)
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Questão
02
a) O vocativo
é uma função sintática que se vincula à
segunda pessoa do discurso. No poema de Álvares de
Azevedo, indica quem o eu-lírico interpela. Transcreva o verso
que apresenta um vocativo entre as linhas 18 e 26.
Resposta:
a) O verso 23 apresenta um vocativo: Amorosa visão,
mulher dos sonhos.
b) O poema
de Álvares de Azevedo faz amplo uso do recurso da inversão
sintática. Especifique o termo da oração
que está deslocado no verso abaixo e explicite a sua função
sintática.
Passam
tantas visões sobre meu peito!
Resposta:
b) O termo é tantas visões , e sua função
sintática, sujeito.
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Texto 4
Sonhos
Gregório
telefona a Berta.
-
Berta, você está bem?
-
Sim, Gregório, por quê?
-
Tive um sonho horrível esta noite. Sonhei que você
se afogava num mar revolto. Eu era o salva-vidas na praia.
-
E você me salvou, Gregório?
-
Claro, Berta. Quem mais poderia te salvar?
No
dia seguinte telefona de novo.
-
Berta, você está bem?
-
Sim, Gregório, por quê?
-
Tive um sonho horrível esta noite. Sonhei que você
estava com nefrite, e que eu era o médico a quem
você consultava.
-
E você me salvou, Gregório?
-
Claro, Berta. Quem mais poderia te salvar?
Terceiro
dia:
-
Berta, você está bem?
-
Sim, Gregório, por quê?
-
Tive um sonho horrível esta noite. Sonhei que você
estava possuída pelos demônios. Eu era o sacerdote
que te exorcizava.
-
E você me salvou, Gregório?
-
Claro, Berta. Quem mais poderia te salvar?
No quarto dia Berta aceita a proposta de Gregório. Casam-se.
E desde então ela tem um único sonho: que Gregório
está morto, morto, morto.
(SCLIAR, Moacyr. In: RAMOS, Ricardo. A palavra é amor.
São Paulo: Scipione, 1988, p.88)
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Questão
03
A comparação entre os textos 4, de
Moacyr Scliar, e 3, de Álvares de Azevedo, acentua
diferenças formais e
temáticas que marcam momentos distintos da literatura brasileira.
Comente, com suas próprias palavras, a
concepção de sonho presente nos textos selecionados.
Resposta:
O texto 3 ("Idéias íntimas"),
típico exemplo da fase do "mal-do-século" ou ultra-romântica
da poesia romântica,
concebe o sonho a partir de uma idealização do amor e da
mulher amada, destacando o desejo do eu poético, ser
infeliz e solitário. A linguagem empregada por Álvares de
Azevedo é marcada pela excessiva adjetivação e pela
escolha vocabular predominante no estilo romântico. O texto 4 ("Sonhos")
é um conto modernista marcado por
um vocabulário coloquial e que utiliza o diálogo como recurso
expressivo. A concepção de sonho presente no
texto de Moacyr Scliar, distinta da apresentada no texto 3, representa
uma visão irônica e crítica das relações
amorosas.
Questões:
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Questão
04
a) Não
é somente o tempo verbal que pode em um texto indicar o tempo,
havendo também outras palavras
e expressões que fornecem indicações temporais. Encontre
no texto a seguir DUAS dessas expressões, que
indiquem, respectivamente:
(i) interrupção de um processo; e
(ii) continuidade de um processo.
Sonhei na noite passada que eu era um tapete muito gasto colocado
no chão de uma sala estranha. As
pessoas andavam sobre mim incessantemente. Eu não sentia nenhuma
dor. De repente eu não era mais
bidimensional. Eu tinha três dimensões, quase cinco centímetros
de espessura. E as pisadas das pessoas
realmente me machucavam.
(Retirado e adaptado de Boss,
Medard. Na noite passada eu sonhei... São Paulo: Editora Summus,
1979, 3a. ed.)
Respostas:
a)
(i) de repente
(ii) incessantemente
b) Geralmente,
nos textos narrativos, há predominância de verbos no pretérito
perfeito do indicativo. No sonho
narrado abaixo, entretanto, observa-se o predomínio de verbos no
presente do indicativo. Que efeito o emprego
desse tempo verbal produz na narrativa abaixo?
Estou andando de bicicleta, passando por uma cidadezinha cujas ruas
são estreitas e sinuosas. Encontro um
caminhão enorme. Alguma coisa me diz que devo dirigir este caminhão;
então tento subir nele. No começo não
tenho muita sorte, mas aí entro na cabine. Então começo
a andar lentamente. É difícil manobrar este veículo
grande e pesado através das ruas estreitas da cidade, mas acabo
conseguindo. Finalmente chega uma via
expressa onde acelero e ultrapasso todos os carros. Enquanto estou ultrapassando,
eu acordo.
(Retirado e adaptado de Boss,
Medard. Na noite passada eu sonhei... São Paulo: Editora Summus,
1979, 3a. ed.)
Resposta:
b) O emprego do presente do indicativo aproxima do momento da enunciação
os fatos já ocorridos, de modo a
conferir vivacidade ao que é narrado.
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Questão
05
O sonho transcrito abaixo corresponde a um relato falado informal.
Reescreva-o, eliminando as marcas típicas de
oralidade e de informalidade.
Sonhei que tinha comprado uma motocicleta nova. Quando trouxe ela
para casa, minha mãe bronqueou,
porque achou errado eu torrar o dinheiro na moto. Decidi, então,
saí viajando pelo mundo, até que encontrei
uma garota que eu me apaixonei por ela imediatamente. Ela ficou fascinada
pela minha máquina. Depois de
um tempo, eu levei a menina de volta para casa comigo e, nesse momento,
acordei.
(Retirado e adaptado de Boss, Medard.
Na noite passada eu sonhei... São Paulo: Editora Summus, 1979,
3a. ed.)
Resposta:
Sonhei
que tinha comprado uma motocicleta nova. Quando a trouxe para casa, minha
mãe reclamou, porque achou errado eu gastar todo o dinheiro na
moto. Decidi, então, sair viajando pelo mundo, até que encontrei
uma garota por quem me apaixonei imediatamente. Ela ficou fascinada pela
minha máquina. Depois de um tempo, eu levei a menina de volta para
casa comigo e, nesse momento, acordei.
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