MENSAGEM DO REITOR
por ocasião do falecimento do Papa Emérito Bento XVI
Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 2022
Na esperança segura de que nessa hora de extrema solidão não estaremos sós, podemos já agora pressagiar algo do que acontecerá. E em meio ao nosso protesto contra a escuridão da morte de Deus, começamos a nos tornar gratos pela luz que vem a nós justamente dessa escuridão.” [1]
Assim se exprimiu outrora Joseph Ratzinger, nosso caro Papa Emérito Bento XVI, que hoje deixou este mundo.
Com estas mesmas palavras de esperança, nós nos despedimos daquele que, entre 2005 e 2013, foi Bispo de Roma, o Sumo Pontífice responsável por salvaguardar a unidade e presidir na caridade a Igreja desde a “Cátedra de Pedro”.
Grande intelectual, Joseph Ratzinger foi professor universitário e deixou como legado seu pensamento profundo e sua dedicação completa ao serviço da fé que busca e se encontra com a razão, pela caridade.
É incontestável sua contribuição para a compreensão do lugar da universidade católica na atualidade, bem como seu papel fundamental de testemunho de diálogo entre a fé e a razão.
Aos jesuítas, exprimiu palavras de alento e encorajamento, recuperando as expressões de outro pontífice, como tive oportunidade de citar em meu discurso de posse:
Estas palavras se mantêm vivas em nossa comunidade que, por analogia, se configura no dito “modo de proceder” dos jesuítas, que podemos entender como a experiência pedagógica secular e a gestão administrativa próprias da Companhia de Jesus, a quem a universidade está confiada desde sua fundação – como serviço à Igreja local, a Arquidiocese do Rio de Janeiro, e universal, a Santa Sé.
Assim, toda a comunidade PUC-Rio está chamada a continuar a almejar as “fronteiras”, nem sempre confortáveis, mas absolutamente necessárias, do conhecimento, da convivência cidadã e da responsabilidade socioambiental, seguindo a “bússola” de nossa Identidade e Missão – contida de maneira clara em nosso Marco Referencial, Estatutos e Regimento interno. De fato, somos conscientes de que, enquanto universidade pontifícia, participamos de um modo peculiar da solicitude do Sumo Pontífice para com o mundo contemporâneo.
Despedimo-nos, pois, com gratidão, de Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, e continuamos nosso caminho de fidelidade criativa à Igreja, na pessoa de nosso amado Papa Francisco, que nos deu exemplo de carinho e respeito pelo então Papa Emérito, seu predecessor – que de sua parte, também, se manteve discretíssimo, por quase 10 anos, em silêncio e oração pela Igreja.
Finalmente, o grande testemunho do Papa Emérito Bento XVI foi sua vida de fé. Assim, gostaria de terminar esta carta oferecendo a todos a oração que ele mesmo formulou, no mesmo opúsculo de onde retiramos a citação inicial:
Senhor Jesus Cristo, na escuridão da morte fizeste luz; no abismo da solidão mais profunda habita agora para sempre a proteção poderosa de Teu amor; em meio ao Teu ocultamento, podemos já cantar o aleluia dos salvos.
Concede-nos a humilde simplicidade da fé, que não se deixa desviar quando Tu nos chamas nas horas da escuridão, do abandono, quando tudo parece problemático; concede-nos, neste tempo no qual se combate uma luta mortal ao teu redor, luz suficiente para não te perder; luz suficiente para que possamos dá-la a todos aqueles que precisam ainda mais dela.
Faz brilhar o mistério da Tua alegria pascal, como aurora da manhã, nos nossos dias; concede-nos que possamos realmente ser homens pascais em meio ao Sábado Santo da história.
Concede-nos que por meio dos dias luminosos e obscuros deste tempo possamos sempre,com espírito jubiloso, nos encontrar em caminho, rumo à Tua glória futura.
Amém. [3]Com esta oração, paradoxalmente tão bela, aproveito para desejar a todos um excelente ano de 2023!
Assim, cumprimento a toda comunidade com meu abraço sincero e cordial,
[1] Joseph Ratzinger, A angústia de uma ausência: três meditações sobre o Sábado Santo.
[2] Papa Bento XVI, em 2008 - falando à Congregação Geral da Companhia de Jesus em Roma, fez referência às palavras do Papa Paulo VI, (Discurso por ocasião da XXXII Congregação Geral, 3 de dezembro de 1974).
[3] Joseph Ratzinger, idem.