PUC-Rio sedia Congresso da Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum e fortalece a luta por uma ecologia integral rumo à COP30
Assessora de comunicação institucional da PUC-Rio

O Sonho Comunitário
A PUC-Rio abriu oficialmente o Congresso Internacional da Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum (RUC), no dia 20 de maio, quando recebeu cerca de 200 reitores de universidades das três Américas e da Europa, em celebração aos 10 anos da encíclica Laudato si' e em preparação para a COP 30. A conferência trouxe para a pauta, e atividades culturais, os quatro sonhos do papa Francisco, publicados na Exortação Apostólica “Querida Amazônia”.
A abertura contou com mensagem especial do papa Leão XIV. Em seu primeiro vídeo gravado, o pontífice defendeu a remissão das dívidas dos países vulnerabilizados e abençoou os participantes.
Assista ao vídeo
O primeiro vídeo do papa Leão XIV, gravado especialmente para o congresso da RUC - Fonte: Vaticano
O secretário-executivo da RUC, Francisco Piñon, deu início ao encontro destacando a urgência de se mudar o rumo do desenvolvimento global; o reitor da PUC-Rio, pe. Anderson Antonio Pedroso, SJ, apresentou o metaprojeto "Amazonizar" e defendeu o compromisso da Universidade com a comunidade:
“Ao contrário de um clube, a comunidade é subtração, e só nasce do espaço de renúncia de cada um quando este se torna um pouco menos autocentrado, quando retira algo do “eu” e abre espaço para o “nós”. Pode parecer desconcertante, mas fazer surgir uma comunidade não se trata de juntar as melhores qualidades de cada um, pois os limites são importantes e nos fazem entender que dependemos uns dos outros, nos tornam mais humanos e abertos à colaboração mútua”, observou. Também expressou gratidão pelo encontro elogiando a oportunidade de se vivenciar, nestes dias, a experiência da comunhão, e de se pensar os sonhos da ecologia integral no exercício da escuta, do discernimento e do desapego das convicções individuais e em benefício da coletividade".

Na abertura, o reitor da PUC-Rio discursa ao lado da presidente e do secretário-geral da Rede - Foto: divulgação
A presidente da RUC, Agustina Rodríguez, afirmou que o congresso, desta vez, tinha uma dimensão mais profunda como homenagem coletiva, agradecida e esperançosa a quem foi e seguirá sendo um dos grandes líderes da atualidade, o papa Francisco. Ela pontuou que a “Laudato si’” se preocupa em promover a interdisciplinaridade como o diálogo de saberes, chamando os professores a mudar de olhar, a quebrar a fragmentação do conhecimento, a formar profissionais éticos e capazes de ler o seu tempo, transformar seus territórios e construir o futuro com os outros.
Também em vídeos gravados, o Grão-chanceler da PUC-Rio, Dom Orani Tempesta, O. Cist, saudou os participantes e reforçou a colaboração da Igreja com a educação transformadora; e o cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, na Cúria Romana, enfatizou que um dos grandes fatores de transformação de mentalidade, que a "Laudato si’" tem oferecido ao mundo, é a consciência de que ninguém está só.
Em seguida à mesa de abertura, a conferência “Coordenação Comunitária Intercontinental para o Desenvolvimento Sustentável” abordou o Sonho Comunitário, com a presença do padre Román Pardo, decano de Teologia da Universidade de Salamanca e diretor da Comissão Caritativa e Social da Conferência Episcopal Espanhola, Román, e Jorge Calzoni, reitor da Universidade Nacional de Avellaneda, Argentina, e presidente da UDUALC, a União de Universidades da América Latina e do Caribe. Pardo e Calzoni enfatizaram o papel das universidades na formação de comunidades organizadas e interligadas. “O primeiro passo para organizar a esperança é uma comunidade organizada”, afirmou o sacerdote.
No fim da tarde, reitores plantaram árvores no recém-inaugurado Espaço Casa Comum. A conferência de encerramento contou com reflexões da reitora da Universidade de La Plata, na Argentina, Rita Gajate, e do cardeal Carlos Castillo, Arcebispo de Lima e membro da Pontifícia Academia pela Vida, sobre a convivência com a crise e a inserção das universidades nos "movimentos invisíveis" da esperança.
Biodiversidade e o Sonho Cultural
O segundo dia tratou do "Sonho Cultural: Biodiversidade". As boas-vindas vieram da secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, Emilce Cuda, que reforçou a necessidade de integração entre universidades do Norte e Sul.
Na abertura, Rafaela Diegoli, do Tecnológico de Monterrey, Maria Eugenia Garcia Moreno, da Universidad Mayor de San Andrés, da Bolívia, Esther Sánchez, da Universidad Nacional de Cuyo (UNCuyo), da Argentina, e Alejandro Guevara, da Universidade Iberoamericana (IBERO), do México, compartilharam experiências de formação e gestão. Para Guevara, “de nada serve termos excelentes técnicos, se não seguirmos as recomendações do Papa Francisco, se não formos ‘sentipensantes’:

O estado atual da Casa Comum abordado em painel - Foto: divulgação
“Quando nos perguntam ‘qual o estado atual da Casa Comum, em termos de biodiversidade e em termos de tecnologia’, a notícia é muito lamentável. Até existe um novo termo, a ‘desfaunação do Antropoceno’; significa dizer que, nos últimos 30, 50 anos, mais de 60% da biodiversidade do planeta foram perdidos”, lastimou.

O jesuíta Peter Rožič alertou sobre a destruição do ecossistema pela criação de gado e sobre o desperdício na produção de carne - Foto: divulgação
No painel seguinte, Walter Panesse discutiu os desafios éticos do uso da inteligência artificial e Peter Rožič, da Oxford University, denunciou a destruição da Amazônia pela pecuária. Também abordou a agroecologia e convidou reitores a colaborarem com os projetos da instituição britânica.
Na parte da tarde, a mesa-redonda “... Do Rio a Belém” trouxe John Martens, da British Columbia University, Canadá, Eugênio Martin de Palma, da Universidad Católica de Santa Fe, Argentina, e Dom Joaquim Ribeiro, bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus e diretor-geral da Faculdade Católica do Amazonas.
Martens abordou a descolonização curricular: “Como podemos incorporar e aprender com os povos originários onde moramos?”, questionou. Eugenio Martin criticou os modelos universitários atuais. Dom Joaquim Ribeiro ressaltou o valor da memória na resistência dos povos tradicionais.
A conferência de encerramento trouxe Raphael Caillou, diretor-geral de Cultura da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), na Espanha. Caillou destacou a cultura como estratégia de desenvolvimento e coesão social.

A plateia atenta e internacional discutiu desafios e propostas durante a conferência de encerramento do segundo dia - Foto: divulgação
Justiça Integral e o Sonho Político
O terceiro dia, dedicado ao "Sonho Político", trouxe temas como justiça ecológica e fraternidade. O primeiro painel impulsionou discussões e reflexões com o objetivo de dinamizar processos globais a partir das diferentes realidades e locais representados, e contou com a participação de Enrique Del Percio, da Universidade de San Isidro, Argentina, Alex Villas Boas, da Universidade Católica Portuguesa, Portugal, e Victor Carmona, da San Diego University, Estados Unidos.
Alex Villas Boas abordou a relação entre espiritualidade e transformação política, com base em Michel Foucault e Michel de Certeau. Victor Carmona defendeu a integração das universidades dos EUA com a América Latina. “A conversão ecológica é uma grande batalha, com muitas dimensões”, afirmou.
Enrique del Percio analisou os riscos do individualismo e o valor da fraternidade madura. “A fraternidade nos lembra que os relacionamentos são horizontais”, observou. Ernesto Villanueva discutiu a integração entre justiça social, ecológica e ambiental: “Mesmo que alguém se dedique a apenas um dos tópicos, não pode esquecer que os outros dois são igualmente importantes”, explicou.

“O estado político atual” foi o tema de abertura do terceiro dia do congresso da RUC - Foto: divulgação

Inspirada pelas palavras de Francisco, a segunda mesa debateu a justiça ecológica, social e ambiental integral - Foto: divulgação
A segunda mesa contou com a presença de Ernesto Villanueva, da Universidad Nacional Arturo Jauretche (UNAJ), Argentina, e Fernando Ponce Leon, da Universidad Católica de Ecuador, Equador, sob o tema “Justiça Ecológica, Social e Ambiental Integral”. Ponce Leon criticou a antipolítica e defendeu o posicionamento das universidades.
A mesa-redonda "O caminho a seguir de Rio-Belém no sonho político" contou com a participação de Jackeline Farbiarz, vice-reitora de Extensão e Estratégia Pedagógica da PUC-Rio, de Susana Nuin, do Instituto Universitário SOPHIA América Latina, da Itália, e de Oscar Alpa, da Universidad Nacional de La Pampa, Argentina.
Jackeline Farbiarz refletiu sobre o corpo político e a educação sensível. Já Nuin ponderou que a RUC traz a possibilidade de articulação interinstitucional, de tecer um entrelaçamento que constroi uma trama: “ser trama é muito mais do que ser um ponto vertical: é um emaranhado que transforma o tecido social”.
Em visita à PUC-Rio, por ocasião do congresso, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, encerrou o dia com a aula magna “A melhor política”, onde declarou: “A COP30 é a COP da implementação. É preciso agir agora, com foco especial nos mais vulneráveis”.

A vice-reitora de Extensão e Estratégia Pedagógica da PUC-Rio, Jackeline Farbiarz (segunda, a partir da esq.) participou dos debates da conferência “Do Rio a Belém”, no terceiro dia - Foto: divulgação

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao centro, trouxe força e sabedoria em sua aula magistral “A melhor política” - Foto: divulgação
Sonho Ecológico
No último dia, o tema foi "Dívida Ecológica". Na mesa de abertura estavam Michael Lee, da Fordham University, Estados Unidos, Róman Pardo, da Universidad de Salamanca e da Conferencia Episcopal Española, Espanha, e monsenhor Lizardo Estrada, bispo auxiliar de Cuzco, Peru, e secretário-geral do Consejo Episcopal Latinoamericano y Caribeño (CELAM).

Dívida ecológica foi o tema do quarto e último dia de trabalhos no congresso da RUC - Foto: divulgação
Michael Lee, da Fordham University, homenageou Dorothy Stang e apresentou iniciativas comunitárias no Bronx: “Perdemos a subvenção, mas aprendemos como sermos uma universidade”, disse. Monsenhor Lizardo Estrada lembrou a missão do CELAM e a continuidade do legado do papa Francisco. Pe. Román Pardo relacionou a dívida ecológica à histórica exploração colonial. “A dívida ecológica mostra os países pobres em desvantagem, como um trem que vai embora levando os países ricos”, afirmou.
Em participação especial, Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e membro da Pontifícia Comissão para a América Latina, observou que as universidades devem trazer, de novo, o futuro, como no passado o fizeram em relação à política, à democracia, à economia, e em relação à fraternidade e à convivência humana. Ele lamentou ainda não ter sido possível levar a encíclica “Laudato si´” para as comunidades mais distantes.
Na segunda etapa do encontro sobre dívida ecológica, Carlos Greco, da Universidad Nacional San Martín, Argentina, retomou a discussão da dívida pública soberana, definindo-a como o resultado de compromissos passados, traduzidos por bônus que impõem obrigações de pagamentos periódicos. Ele ressaltou que essas obrigações "geram condições macroeconômicas que limitam, em algum sentido, a possibilidade de desenvolvimento dos países menos desenvolvidos".

Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, observou que as universidades devem trazer, de novo, o futuro - Foto: divulgação
O professor Juliano Assunção, do Departamento de Economia da PUC-Rio, complementou os pontos levantados, com foco distinto na crise climática.
“A proposta de renegociação das dívidas públicas para países altamente endividados, com a contrapartida de investimentos em adaptação para suas populações, constitui um caminho muito promissor e deveria ser a base para um diálogo concreto no caminho do Rio a Belém", concluiu o professor.

Desafios e propostas, rumo à COP 30, foram o centro dos debates da plenária final - Foto: divulgação
Na plenária final, comunicadores, reitores e professores reforçaram a importância da mobilização estudantil, do uso da comunicação e da inteligência artificial para propagar a mensagem da Casa Comum. Foram sugeridas a criação de glossários, cartas de demanda às COPs, encontros regionais e publicações semanais.
Encerramento: Chamado coletivo aos pés do Redentor
No dia 24 de maio, no Santuário Cristo Redentor, os reitores e reitoras das universidades participantes emitiram uma Chamada Global à ação, reafirmando o compromisso com a justiça ecológica e social.
O reitor da PUC-Rio, padre Anderson Pedroso, SJ, e a presidente da RUC, Agustina Rodríguez, destacaram, em seu discurso, a importância da escuta, do discernimento e do compromisso. “Nos comprometemos a fortalecer o caminho que iniciamos na audiência histórica que nos concedeu o papa Francisco”, afirmou o reitor.

O Reitor da PUC-Rio discursou ao lado da presidente da RUC, Agustina Rodríguez - Foto: divulgação
As propostas finais do congresso incluem a remissão das dívidas dos países menos industrializados, a construção de pontes entre povos e saberes e a formação de novas gerações por meio de uma educação transformadora. A declaração é clara: "Não há justiça social sem justiça ecológica. Não há futuro sem compromisso.
Na semana seguinte ao encontro, Pe. Anderson realizou um encontro especial para agradecer a todos os envolvidos no sucesso do congresso:
“Foi uma semana de grande importância para a nossa PUC-Rio, no horizonte de seu metaprojeto Amazonizar. Uma verdadeira Pré-COP 30 das universidades! Estiveram reunidos reitores e responsáveis de 200 universidades (públicas e privadas) das três Américas e da Europa, em um esforço conjunto de dialogar, ouvir e pensar soluções para a crise climática, concluído com uma “Chamada Global” que pede a remissão da dívida pública dos países pobres em desenvolvimento em dívida ecológica dos países ricos e desenvolvidos. Nossa Universidade, como anfitriã, se orgulhou em colaborar com esse grande movimento.”

Após o congresso, Pe. Anderson Pedroso reuniu os funcionários envolvidos para um agradecimento especial - Foto: divulgação
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