Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Projetos de pesquisa
Linha de Pesquisa: Comunicação e Representação
Espectatorialidades e narrativas audiovisuais: representações, imaginário e consumo
Docente: Profª. Drª. Bruna Sant Ana Aucar
Descrição:
Este projeto de pesquisa propõe variadas reflexões sobre continuidades e rupturas das televisualidades e do estatuto da experiência do espectador em estruturas forjadas por um ecossistema midiático caracterizado pela hegemonia de redes telemáticas. Tem como ênfase, a análise de narrativas audiovisuais produzidas e distribuídas em interfaces digitais, mais especificamente através da transmissão de dados por streaming. Parte do pressuposto de que as mensagens televisuais participam dos processos de construção de sentido, elaboração de subjetividades e materialização do imaginário contemporâneo, assim como atuam diretamente nas escolhas e práticas de consumo interceptadas por contextos multitelas e multimídias. Nesse sentido, o projeto procura investigar a ubiquidade do visível na contemporaneidade, ponderando a televisão como tela e como mídia presente em diversos meios e linguagens, bem como o papel do espectador nessa dinâmica comunicativa, que aciona, inclusive, comportamentos e nomenclaturas particulares em sua relação com o universo digital.
Antecedentes:
O projeto segue uma série de abordagens reflexivas anteriores que problematizam as transformações das narrativas midiáticas e seus dispositivos de acesso como modelos de representação, lugares de saber e poder que incidem diretamente sobre o corpo e o imaginário do indivíduo (CRARY, 2012; WILLIAMS, 2016 [1974]; MARTÍN-BARBERO, 2006 [1987]; HALL, 2016; ECO, 1984 [1973]). Questiona-se a variedade de formatos televisuais e instrumentos ópticos que despontam na modernidade não apenas como parte integrante de uma história cultural dos meios de comunicação, mas por sua inserção no campo social, conectados à dinâmica produtiva de saberes e poderes de cada temporalidade.
Perspectivas teóricas:
O projeto toma como ponto de partida as discussões conceituais sobre televisão desenvolvidas partir de meados da década de 1970 com as considerações sobre fluxo televisivo e gênero desenvolvidas no âmbito dos Estudos Culturais, na Inglaterra, com destaque para as reflexões de Raymond Williams (2016 [1974]). Neste sentido, se aproxima dos novos entendimentos dos processos produtivos no circuito comunicativo da cultura proposto por Stuart Hall (2016), que permitiram enfoques originais sobre o audiovisual, fundamentados principalmente na semiótica estruturalista e etnografia. Tais considerações levam em conta o contexto sociocultural e as diferentes dinâmicas culturais, como evidenciam as obras de Umberto Eco (1984 [1973]; 2008 [1979]) e Martín-Barbero (2006 [1987]).
Com a sinalização de Martin-Barbero (2006 [1987]) sobre o poder da televisão no imaginário popular, houve o crescimento de uma abordagem valorativa das televisualidades com investigações específicas sobre a diversidade do acervo audiovisual produzido em tempos modernos. A mudança nos modos de ver, os descentramentos, as variadas temporalidades sociais, os profusos polos produtores de mídia, conjugados em um ecossistema comunicacional complexo dialogam com as contribuições de críticos da cultura das mídias e da complexidade narrativa, como John Ellis (2003 [1992]), François Jost (2004, 2010, 2012), Jane Feuer (1983), Arlindo Machado (2000), Douglas Kellner (2001), John Fiske (2006), Amanda Lotz (2007), Jason Mittel (2007).
Objetivos:
- Refletir sobre os sentidos e os significados que a televisão (como tela e mídia) assume no mundo moderno-contemporâneo, caracterizado por sistemas telemáticos e enquadrado por dispositivos móveis.
- Investigar como a relação orgânica de indivíduos com imagens e dispositivos alicerça a luta política por reconhecimento com o rompimento de estereótipos.
- Indagar em que medida as imagens imateriais, produzidas e arquivadas por sistemas digitais on-demand são efeito de uma reorganização de saberes e poderes, disputas de sentidos e percepções de códigos coletivos.
Metodologia:
O projeto de pesquisa compreende variadas possiblidades previstas pelo que se convencionou chamar de metodologia qualitativa, fundamentada por interpretações de representações midiáticas. A intenção é privilegiar a análise de narrativas audiovisuais ficcionais e não-ficcionais produzidas, disseminadas e consumidas em interfaces digitais.
Nesse sentido, através do exercício da hermenêutica busca reinterpretar, reelaborar historicamente os sentidos e os significados dos acontecimentos, fatos e coisas (BASTOS e DAYRELL PORTO, 2006). A teoria geral da interpretação avalia as ocorrências mediadas pela linguagem. Toda interpretação é também uma forma de simbolizar novamente – o que, às vezes, chamam ressignificação – construir novos significados através dos signos analisados, alargando assim a perspectiva crítica da ciência. Assim, a hermenêutica pretende promover desvelamentos de sentido, instituindo uma construtiva experiência na dimensão comunicacional. Concomitante, a tradição semiótica vai embasar a desconstrução dos elementos narrativos para o estudo dos signos da cultura audiovisual como um tipo de linguagem que aciona sentidos e significados não evidentes.
Através das narrativas televisuais, a pesquisa procura entender a adequação histórico-sociológica da Comunicação, a partir do século XIX, como sistema de saber e poder. Segundo Chartier (1988), a história não é o pano de fundo onde as ações se desenrolam, e sim uma dimensão construtora de fatos e identidades sociais. Nesse sentido, a história cultural embasa essa abordagem, que quer realçar o papel dos agentes sociais e suas ações. Através de “práticas” e “representações”, a história cultural examina a atuação dos sujeitos, os objetos culturais produzidos e sua recepção, bem como os sistemas de elaboração destas cadeias produtivas, seus suportes de difusão cultural e suas normas de conformação.
Comunicação e consumo: narrativa publicitária, cultura e sociabilidade
Docente: Prof. Dr. Everardo Rocha
Descrição:
Esse projeto visa desenvolver uma investigação dos significados do consumo e da publicidade como forma de conhecer representações, experiências e práticas que giram em torno desses fenômenos na cultura contemporânea. A proposta de pesquisa é tanto identificar, classificar e analisar os valores, comportamentos, identidades e estilos de vida que eles elaboram como estudar os modos pelos quais o consumo e a narrativa publicitária operam distinções, diferenciações, semelhança entre grupos sociais e bens de consumo.
Antecedentes:
Esse projeto expressa a continuidade de um longo trabalho de investigação das relações entre comunicação, narrativa publicitária e consumo que venho desenvolvendo no Programa de Pós-Graduação em Comunicação do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio. Assim, ele tanto deriva quanto se insere numa perspectiva de interpretação da comunicação e do consumo cujo eixo central está, sobretudo, na investigação das formas pelas quais a narrativa publicitária elabora representações, propicia experiências e institui práticas sociais que transformam o consumo em um recurso essencial de classificação, identificação, diferenciação e distinção na cultura contemporânea.
Os antecedentes dessa pesquisa remontam à década de 1980 e desta perspectiva de interpretação da narrativa publicitária e do consumo resultaram, ao longo desses anos, os livros “Magia e capitalismo: um estudo antropológico da publicidade”; “A sociedade do sonho: comunicação, cultura e consumo”; “As representações do consumo: estudos sobre a narrativa publicitária”; “Antropologia e comunicação: cultura, simbolismo e consumo” e “Juventude e consumo: um estudo sobre a comunicação na cultura contemporânea” (em coautoria com a professora Claudia Pereira), além de inúmeros ensaios publicados em revistas acadêmicas e como capítulos de livros. A viabilização dessas pesquisas contou sempre com o decisivo apoio do CNPq tanto através de sucessivas bolsas de Produtividade em Pesquisa quanto através do PIBIC.
Assim, parte substancial de minha produção acadêmica na qual o presente projeto se insere está voltada para pesquisas sobre as representações presentes na narrativa publicitária e as práticas relacionadas ao consumo que, acredito, são questões fundamentais para a área da Comunicação. A investigação crítica da publicidade e seu lugar na cultura contemporânea é algo fundamental pela imensa riqueza intelectual contida em um tipo de narrativa que produz e sustenta uma fatia substancial dos significados dos bens de consumo, do espaço que possuem em nossas experiências concretas de vida e do sentido que atribuímos a eles nas práticas sociais cotidianas. É igualmente importante a busca de preencher uma lacuna, pois uma narrativa tão poderosa, complexa e típica do campo da Comunicação como a publicidade e experiências e práticas tão centrais na cultura contemporânea quanto o consumo, ainda são temas pouco estudadas.
Objetivos:
Esse projeto pretende estudar os principais significados que as narrativas publicitárias elaboram, investigando as formas pelas quais elas, ao produzirem sentido público e coletivo para os bens de consumo, também prescrevem valores e modelam práticas sociais. Através de um complexo conjunto de representações, a narrativa publicitária expressa identidades, diferenças, subjetividades, projetos, comportamentos, relações, define capitais sociais e oferece um mapa classificatório central que regula diversas esferas da experiência social na cultura contemporânea. Assim, esse projeto visa intensificar, aprofundar, sistematizar e ampliar o estudo da narrativa publicitária, investigando como nela se configura um sistema de valores que informa os comportamentos concretos de grupos sociais em suas experiências e práticas de consumo.
Neste projeto, vamos pensar a questão da narrativa publicitária e do consumo em dois planos. Por um lado, como sistema de significação, permitindo descortinar um vasto panorama do imaginário da sociedade contemporânea. Por outro, como conjunto de experiências particulares e práticas concretas que perpassa o cotidiano e codifica os estilos de vida dos diferentes grupos sociais. Também, através da investigação da publicidade e do consumo buscamos compreender aquilo que no imaginário da sociedade brasileira pode estar no plano global, onde são compartilhadas experiências culturais contemporâneas, bem como no plano local, onde se define o que nos é marcadamente singular.
Assim, dentro de uma disposição mais de ampliar a massa crítica em relação à comunicação, à publicidade e ao consumo, a pesquisa vai procurar identificar na narrativa publicitária os modos de elaboração dos valores culturais que constroem o imaginário, as experiências e as práticas de consumo. Para tanto, se colocam as seguintes questões e temáticas de estudo
- Investigar as representações da narrativa publicitária e a construção de sistemas de classificação que articulam semelhanças e diferenças entre grupos através dos usos sociais dos bens e dos padrões de consumo;
- Analisar as principais representações acionadas pela narrativa publicitária, em particular aquelas relacionadas às questões de gênero, geração, diferença cultural e etnocentrismo;
- Avaliar as formas pelas quais os bens de consumo podem traduzir uma estruturação das identidades sociais, atuando como força cultural na formação da visão de mundo dos diferentes grupos;
- Investigar a narrativa publicitária como exercício do poder através das representações ideológicas que marcam o universo das práticas, o capital social e as distinções de gosto;
- Analisar as formas pelas quais a publicidade elabora identidades sociais a partir de marcas, grifes, objetos e bens de consumo e entender seu papel na superposição entre as identidades de cidadão e de consumidor;
- Estudar o consumo e a narrativa publicitária no quadro do novo modelo de produção econômica da modernidade e como operador de novas experiências de sensibilidades, identidades culturais e modos de sociabilidade;
- Investigar a narrativa publicitária e a experiência do consumo e suas relações, tanto lógicas quanto históricas, com o entretenimento na cultura moderno-contemporânea;
- Analisar o consumo como espaço de disputa, negociação e tensão entre experiência individual e identidade coletiva e entre perspectivas globais e realidades locais;
Perspectivas teóricas:
Esses temas de pesquisa são desafios colocados ao estudo da narrativa publicitária, do fenômeno do consumo e do universo cultural que os sustenta. São também questões que reúnem a investigação da publicidade e do consumo com a tradição dos estudos das ideologias, representações e sistemas simbólicos. Assim, este projeto vai procurar descrever, classificar, sistematizar e interpretar os significados da narrativa publicitária e sua tradução nas experiências e práticas do consumo, tendo como meta entender a sua lógica e seu modo de operação na cultura contemporânea - e na experiência brasileira em especial - através das possibilidades oferecidas pela convergência de diferentes tradições intelectuais.
O consumo e o dispositivo publicitário que lhe dá voz são fatos sociais, coletivos e públicos, que se inscrevem lógica e historicamente em nossa cultura. Portanto, a devida atenção à temática do revestimento cultural desses fenômenos indica uma instância de maior abrangência cuja análise pode encontrar sustentação consistente na tradição da Comunicação e demais Ciências Sociais em análise de sistemas simbólicos. O que é constitutivo da publicidade como narrativa e do consumo como prática - as marcas, produtos, serviços, mercados, compras, escolhas, atitudes, decisões, etc. - faz parte de um universo de trocas simbólicas que acontecem entre atores sociais no palco da cultura. Publicidade e consumo são, entre outras coisas, processos de comunicação e classificação de pessoas e objetos.
O projeto, portanto, considera o estudo da narrativa publicitária e do consumo como referências centrais para uma interpretação da cultura contemporânea. As representações, experiências e práticas que esses fenômenos acionam definem uma instância de invenção de categorias ordenadoras da cultura em nosso tempo, expressando princípios, ideais, sensibilidades, estilos, identidades sociais e projetos coletivos. A publicidade e o consumo espelham, com exata adequação, certo “espírito do tempo”, uma face bem definida da sociedade na qual vivemos. Não é por acaso que a experiência contemporânea se traduz no que chamam “sociedade de consumo”.
A complexidade e a riqueza intelectual das questões aí implicadas indicam que estudá-las traduz um esforço intelectual significativo para atender uma efetiva demanda produzida pela cultura contemporânea. Em certo sentido, compreender a sociedade contemporânea passa pela compreensão de algumas das questões que se inscrevem na pesquisa dos dispositivos publicitários e das experiências de consumo. Conhecer o poderoso sistema de representações sustentado pela narrativa publicitária e pelas práticas de consumo é uma chave para a compreensão profunda das transformações sociais que fundaram a chamada modernidade.
Estudar o consumo através do contexto simbólico no qual ele está inserido é investir na tradição acadêmica que pensa a modernidade para além da visão predominantemente utilitária. A compreensão da sociedade moderno-contemporânea teve no pensamento econômico - e na categoria “produção”, em especial - a sua chave explicativa básica. O consumo foi relegado a um mero reflexo, uma espécie de efeito secundário da produção, dentro de uma visão racionalista e utilitária, dominada pela chamada “razão prática” (Sahlins, 1979).
É no sentido de realizar um debate intelectual capaz de ampliar essa interpretação da cultura moderno-contemporânea que é necessário estudar estes sistemas simbólicos - consumo e narrativa publicitária - como oportunidade privilegiada para entender muitos dos significados da mentalidade contemporânea e, também, da experiência brasileira (DaMatta, 1985). Algumas possibilidades promissoras deste estudo passam por uma démarche que assuma a narrativa publicitária e o consumo como códigos culturais capazes de expressar uma complexa pluralidade de mensagens, disponibilizar um amplo conjunto de experiências e mapear uma parte substancial das práticas cotidianas. Assim, nossa referência para realizar essa pesquisa está na tradição das análises de sistemas simbólicos que balizam um espaço teórico seguro composto de materiais clássicos na literatura da Comunicação e das Ciências Sociais.
Metodologia:
Para realizar esta investigação, o projeto vai privilegiar métodos de pesquisa qualitativos e, em particular, a etnografia. O método etnográfico pode ser caracterizado como captação e interpretação de valores e práticas socialmente experimentadas, através de uma ênfase na exploração de fenômenos particulares; na perspectiva microscópica; nas entrevistas em profundidade; na análise do discurso de informantes; na investigação em detalhe; na observação participante; na decodificação de representações. A etnografia busca, para utilizar a consagrada expressão de Clifford Geertz, realizar uma “descrição densa” da experiência cultural (Geertz, 1978) sendo o conhecimento científico gerado, em certo sentido, pela visão interna de um fenômeno obtida a partir do ponto de vista “nativo”. Para além do contexto “clássico” do qual nasceu, a etnografia consolidou uma tradição de estudo de sistemas culturais de grupos urbanos, abrindo espaço para a análise de fenômenos como publicidade e o consumo - suas representações e suas práticas.
Este projeto visa, portanto, pesquisar representações, estilos e valores expressos na narrativa publicitária e, efetivamente, experimentados nas práticas de consumo dos atores sociais. Utilizar a etnografia como método de pesquisa quer dizer estudar as categorias que norteiam o pensamento e as práticas de grupos sociais concretos, historicamente datados, dotados de fronteiras culturais nítidas e características comuns de experiência. A primeira questão tipicamente etnográfica é, portanto, configurar um grupo como conjunto de atores sociais que compartilham certa homogeneidade de pensamento, que trocam experiências, que possuam ethos, visões de mundo, práticas e estilos de vida capazes de permitir a construção de unidades sociológicas significativas.
Definir fronteiras que estabeleçam uma espécie de territorialidade simbólica é parte do cuidado etnográfico com o qual se pretende conduzir a pesquisa. Por isso, o projeto procurará captar a visão que os grupos sociais possuem dos significados dos anúncios publicitários e do consumo, entendendo o peso relativo destes fenômenos em suas vidas. Etnografias são estudos concretos e pontuais, que pretendem conhecer os fenômenos a partir das percepções de grupos e, assim, entender como eles concebem e praticam suas experiências de vida. O esforço de ouvir o outro, a perspectiva microscópica e a busca de relativização que isto implica são marcas próprias do projeto etnográfico. Nesse sentido, é nosso propósito também examinar os limites e possibilidades da etnografia como instrumento de pesquisa em Comunicação, analisando os significados das representações publicitárias e das práticas sociais de consumo.
Culturas midiáticas, memória e histórias de vida: estudos sobre representações e produções simbólicas das juventudes
Docente: Profª. Drª. Cláudia da Silva Pereira
Descrição:
Este projeto de pesquisa explora os processos culturais e simbólicos decorrentes das relações que se estabelecem entre, de um lado, os jovens e, de outro, os ambientes midiáticos e de transformação social na contemporaneidade. Cabem no escopo de nossos interesses de investigação as questões voltadas para representações, produções midiáticas, práticas de lazer, formações culturais e diversos modos de participação política das juventudes na sociedade. Parte-se do pressuposto de que os jovens são atores sociais e que devem ser observados como tal, recusando as abordagens deterministas que apenas os tomam metodologicamente como informantes ou que exclusivamente os analisam como uma representação universal.
Antecedentes:
As discussões que se apresentam neste projeto são estimuladas por reflexões anteriores que partiram das representações sociais dos jovens nas mídias, mais especificamente na publicidade. Confrontando o "conceito estratégico para a publicidade" que define "a juventude" em artigo científico publicado na Revista Comunicação Mídia e Consumo em 2010, com o cotidiano revelador de múltiplas "juventudes" observadas em dois projetos de pesquisa que vêm sendo desenvolvidos, as culturas de lazer e as culturas urbanas vêm sendo objeto de nossas reflexões. O primeiro projeto parte de imersões etnográficas no Rio de Janeiro, desde 2017, quando chegamos a projetos sociais na cidade liderados por juventudes plurais e às suas expressões nas mídias, as quais categorizamos como "culturas midiáticas das juventudes", em artigo publicado em 2021 na Revista E-Compós. O segundo é o projeto intitulado "MuJuCa – Museu das Juventudes Cariocas", que reúne relatos de pessoas de diferentes gerações sobre suas juventudes em distintas décadas, na cidade do Rio de Janeiro. Por meio da abordagem comparativa, foi possível observar signos geracionais, mas também rupturas entre juventudes vividas nas mesmas décadas, assim como continuidades entre juventudes vividas em décadas diferentes. Dessas duas pesquisas, emergem diversos cotidianos, lazeres e histórias de vida, as quais levam a ações sociais, formas políticas não-convencionais e subjetividades reflexivas que deslocam a noção de juventude, no singular, para a de juventudes, no plural.
Perspectivas teóricas:
As abordagens teóricas e metodológicas que dialogam com os "estudos culturais" sedimentam as bases das discussões do presente projeto, sem, no entanto, se limitarem a eles. Teóricos da antropologia, da sociologia e da comunicação, em toda a interdisciplinaridade intrínseca aos estudos culturais, colaboram para a análise das questões centrais: os jovens como "atores socialmente situados" e as "tensões e negociações" entre eles e instituições normativas, segundo Rossana Reguillo e Jesús Martín-Barbero; a construção da "memória coletiva" e os "lugares de memória" a partir das teorias de Maurice Halbwachs e Pierre Nora, entre outros; as "formações" e "articulações culturais" que envolvem a juventude e suas "alianças afetivas", elaboradas por Lawrence Grossberg; as gerações, culturas, subculturas, cenas, entre outros tipos de categorizações que classificam os jovens em suas expressões, singularidades e diferenças grupais presentes em obras do CCCS – Centre for Contemporary Cultural Studies da Escola de Birmingham, de Ross Haenfler, e de Carles Feixa; os cotidianos, as "culturas de lazer" e as culturas urbanas, exploradas pelos portugueses José Machado Pais e Ricardo Campos; as "novas sensibilidades" das juventudes e suas relações com a memória observadas por Jesus Martin-Barbero; as "cidadanias", de acordo com José Machado Pais, Ricardo Campos e Alix Sarrouy, e ainda os "projetos" e "campos de possibilidades" entre os jovens, nos textos de Gilberto Velho.
Objetivos:
A partir do escopo da pesquisa atual, das explorações que a antecederam e das perspectivas teórico-metodológicas até aqui apresentadas, definem-se os seguintes objetivos:
- Acolher estudos voltados para temas como memória, cotidianos, lazeres, ações sociais, formas políticas não-convencionais e subjetividades reflexivas presentes nas mídias ligadas às juventudes de diferentes contextos históricos e sociais;
- Analisar as representações das juventudes a partir de uma abordagem comparativa intergeracional e intrageracional;
- Desenvolver pesquisas que se dediquem a compreender as trajetórias de vida de lideranças juvenis à frente de projetos sociais, coletivos e outras formações culturais voltadas para transformações sociais e participações políticas não-convencionais, contemplando, paralelamente, os modos como atuam no ambiente online;
- Tomar os jovens como atores sociais, produtores de cultura e de política não-convencional, descrevendo e analisando as suas produções midiáticas, culturais e artísticas, inclusive em gerações passadas;
- Realizar estudos de caráter etnográfico a fim de mapear ações sociais lideradas por juventudes plurais, refletindo sobre suas relações com as instituições normativas da sociedade e suas implicações na construção social da noção de "juventude".
Metodologia:
A metodologia aplicada para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa é de caráter qualitativo, aplicando técnicas interdisciplinares, que podem incluir a etnografia, a etnografia na internet, o estudo de caso, a análise interpretativa de conteúdo, a pesquisa documental, a história de vida, entre outras que podem vir a ser criadas e desenvolvidas no percurso mesmo da pesquisa.