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LÍNGUA
PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA (discursiva) - todos os grupos
Texto 1
Da Educação das Crianças Michel de Montaigne
(...) É uma das mais árduas tarefas
que conheço colocar-se a gente no nível da criança;
e é característico de um espírito bem formado e forte
condescender em tornar suas as idéias infantis, a fim de melhor
guiar a criança. Anda-se com mais segurança e firmeza nas
subidas que nas descidas. [In:
Ensaios I , Coleção Os Pensadores, São Paulo:Abril,
1971]
a) O pequeno fragmento de Montaigne abre-se com uma alusão à dificuldade de "o adulto colocar-se no nível da criança". O episódio narrado abaixo ilustra como os caminhos do pensamento infantil podem surpreender: Um pai mostra um retrato da bisavó ao filho de três anos:
Explique por que, nesse caso específico, o modo de pensar do menino causa surpresa ao adulto. R: A surpresa decorre de um sentido inesperado que a criança atribui à palavra "atrás" nesse contexto. Na fala do adulto, "atrás" indica tempo decorrido, ao passo que, na da criança, assume uma dimensão espacial. b)A expressão "ficar ruminando uma idéia" remete a uma analogia de que Montaigne também faz uso em seu texto. Levando-se em conta que toda analogia compara coisas diferentes apontando entre elas traços de semelhança, faça o que se pede:
(i) Retire do texto uma frase em que Montaigne faz uso explícito da analogia presente na expressão mencionada acima. R: "É indício de azia e indigestão vomitar a carne tal qual foi engolida." Ou: "O estômago não faz seu trabalho enquanto não mudam o aspecto e a forma daquilo que se lhe deu a digerir." (ii) Responda: o que está sendo comparado na analogia em questão? R: Estão sendo comparados pensamento e alimentação. Questões: 01 | 02 | 03 | 04 | 05 | demais provas
Estabeleça uma relação entre o texto de Montaigne e o seguinte pensamento de A. Schopenhauer:
Pensamentos no papel são como as pegadas de um homem na areia. É certo que podemos ver o caminho que ele tomou; mas para ver o que ele viu no trajeto, precisamos usar os nossos próprios olhos. R: Os fragmentos de Montaigne e Schopenhauer têm em comum a valorização da autonomia intelectual; salientam ambos a importância de uma reflexão própria no exame de saberes estabelecidos. Questões: 01 | 02 | 03 | 04 | 05 | demais provas Texto 2
Infância Carlos Drummond de Andrade
MEU PAI montava a cavalo, ia para o campo.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
Minha mãe ficava sentada cosendo
Lá longe meu pai campeava E eu não sabia que minha história
[In: Poesia e Prosa/Alguma Poesia. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979. p.71]
Texto 3
Minha Vida e Meus Amores Mon Dieu, fais que je puisse aimer!
Quando, no albor da vida, fascinado
Quanto é bela esta vida assim vivida! _
Foi esta a infância minha; a juventude
Gonçalves Dias. In: Poesia e prosa Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. p.136
a) Lendo os dois poemas, um de Gonçalves Dias e outro de Carlos Drummond de Andrade, indique marcas de diferença no lirismo presente em cada um deles. R: No poema de Drummond,
o emprego econômico e harmonioso do coloquial confere perspectiva
lírica às lembranças da infância, vivida no
cotidiano da fazenda patriarcal.
a ninar nos longes da senzala _ e nunca se esqueceu (linha 8) R: A palavra longe ocorre tipicamente como advérbio, mas no verso em questão aparece como substantivo.
Antônio Gonçalves Dias nasceu em Caxias província do Maranhão filho de português com mestiça fez no Maranhão seus primeiros estudos e seguiu na sua juventude para Coimbra onde completou sua formação regressando ao Maranhão sentiu-se incompatibilizado em seu meio e seguiu para a Corte no Rio de Janeiro R: Antônio Gonçalves Dias nasceu em Caxias, província do Maranhão, filho de português com mestiça. Fez no Maranhão seus primeiros estudos e seguiu na sua juventude para Coimbra, onde completou sua formação. Regressando ao Maranhão, sentiu-se incompatibilizado em seu meio e seguiu para a Corte, no Rio de Janeiro. Questões: 01 | 02 | 03 | 04 | 05 | demais provas Texto 4
Um cinturão Graciliano Ramos
Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo. A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido, movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos. Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes, mas não se tratava disto. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal. (...) Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que rogos e adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobre-diabo. (...) Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala como carrapeta, eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir, quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me, num desespero. O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível. Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. (...)
In: Fragmento de Infância. 32a ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 31/32
a) Indique, neste fragmento de Infância, expressões que evidenciam a alteração do olhar da criança sobre o mundo, comparado ao olhar lírico verificado no Texto 3, de Gonçalves Dias. R: Se, nos versos de Gonçalves Dias, a infância é evocada sob o signo da esperança, em cenário natural paradisíaco, no fragmento narrativo de Graciliano, a criança é retratada experimentando medo e humilhação diante da cólera do adulto. A cena do castigo sofrido, no interior da casa, ganha, aos olhos do menino, gratuidade e violência exacerbadas
R: Modernismo é
o movimento literário em pauta. Questões: 01 | 02 | 03 | 04 | 05 | demais provas
a) Reescreva a seguinte frase, substituindo o pronome me por uma expressão equivalente, sem alterar o sentido: A pergunta repisada ficou-me na lembrança (linha 1) R: A pergunta repisada ficou na minha lembrança.
R: Relacionam-se metonimicamente ao personagem do pai as expressões como "a mão cabeluda", "o olho duro" e "a voz rouca".
(a) sujeito de verbos de
percepção; e
Comente essa afirmação analisando os verbos do terceiro parágrafo do Texto 4 ("Havia uma neblina..."). R: O terceiro parágrafo do texto confirma o que se diz no enunciado: observa-se que, nas orações com os verbos perceber, ver e saber, todos de percepção, os termos referentes à figura do narrador desempenham função de sujeito. Já nas orações com os verbos prender, arrastar e fustigar, todos de ação, tais termos desempenham função de objeto. Questões: 01 | 02 | 03 | 04 | 05 | demais provas |
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