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Vestibular 2003Provas e Gabaritos


 
09/12/2002
12/12/2002
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DISCURSIVAS
OBJETIVAS
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Questões:

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Português e Literatura Brasileira - Todos os Grupos
Prova discursiva realizada no dia 09/12/2002

Observação: Serão aceitas outras respostas, desde que atendam adequadamente aos requisitos de cada questão.

Texto 1

"Aristóteles ensina que o riso é algo próprio do homem. O senhor ri; logo, o senhor é um homem. Fez bem em rir, pois do contrário não nos teríamos apercebido disso".

(Jerônimo Jekovic. Duas ou três coisas que eu sei do humor. Revista de Cultura
Vozes, ano 64, vol. LXIV, no. 3. Petrópolis: Ed. Vozes Ltda., 1970, pp 47-53.)


Texto 2

Entre os autores humanistas, Castiglione, em "O Cortesão", enfatiza que "o riso é observado apenas na humanidade, e é sempre sinal de uma certa jovialidade e um certo ânimo alegre que o homem sente no interior de sua mente".

(Quentin Skinner. A arma do riso. Revista MAIS, Folha de São Paulo, 04/08/2002.)


Texto 3

"Entrevista com a especialista em psicobiologia Silvia Cardoso sobre a graça do riso para a ciência

O senso comum é que só os seres humanos são capazes de rir. Isso não é verdade?
Silvia - Não. O riso básico - o da brincadeira, da diversão, da expressão física do riso, do movimento da face e da vocalização -, nós compartilhamos com diversos animais. Em ratos, já foram observadas vocalizações ultra-sônicas _ que nós não somos capazes de perceber _ e que eles emitem quando estão brincando de "rolar no chão". Se o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro, o rato deixa de fazer essa vocalização e a brincadeira vira briga séria. Sem o riso, o outro pensa que está sendo atacado. O que nos diferencia dos animais é que não temos apenas esse mecanismo básico. Temos um outro mais evoluído. Os animais têm o senso de brincadeira, como nós, mas não tem senso de humor. O córtex, a parte superficial do cérebro deles, não é tão evoluído como o nosso. Temos mecanismos corticais que nos permitem, por exemplo, interpretar uma piada."

(http://globonews.globo.com/GloboNews/article/0,6993,A296321-571,00.html)


Texto 4
(Luís Fernando Veríssimo, Jornal do Brasil)


Questão nº1 (valor: 3,5 pontos)

A partir da leitura dos textos acima:

a) Compare as idéias sobre o riso presentes nos textos 1, 2 e 3.

b) Comente de que forma a evolução técnico-científica permitiu a percepção do fenômeno do riso nos animais.

c) Aponte em que textos a construção do efeito humorístico está relacionada à manifestação de superioridade.

d) "Se o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro, o rato deixa de fazer essa vocalização e a brincadeira vira briga séria." Reescreva esse período substituindo a forma "provocar" por "provocasse" e faça as alterações que se tornam necessárias a partir dessa mudança.


a) Sugestão de resposta: Nos textos 1 e 2, o riso é um fenômeno exclusivamente humano. No texto 3, o riso é compartilhado com animais e é visto como um mecanismo básico de diversão e brincadeira. O texto 3 diferencia riso de humor, este último uma propriedade apenas dos seres humanos.

b) Sugestão de resposta: Apenas com a evolução do conhecimento sobre o cérebro e com o uso de aparelhos que captam vocalizações ultra-sônicas foi possível perceber que os ratos também riem.

c) Resposta: Textos 1 e 4.

d) Sugestão de resposta: Se o cientista provocasse um dano em um local específico no cérebro, o rato deixaria de fazer essa vocalização e a brincadeira viraria briga séria.


Questões: 1 | 2 | 3 | 4 | 5



Texto 5

"O discurso do humor: temas, técnicas e leituras

Se você diz a alguém que estuda piadas, o primeiro efeito que produz ainda é o riso. É uma pena que seja assim, porque as piadas são de fato um tipo de material altamente interessante. Por várias razões.
Em primeiro lugar, as piadas são interessantes para os estudiosos porque praticamente só há piadas sobre temas que são socialmente controversos. Assim, sociólogos e antropólogos poderiam ter nelas um excelente corpus para tentar reconhecer (ou confirmar) diversas manifestações culturais e ideológicas, valores arraigados. [...]
Em segundo lugar, porque piadas operam fortemente com estereótipos. Assim, fornecem um bom material para pesquisas sobre "representações", por exemplo. Possivelmente, qualquer estudioso tenha o direito de afirmar que tais representações são grosseiras demais para revelarem qualquer fato significativo. Mas estará enganado. De fato, elas revelam que, freqüentemente, discursos operam mesmo com representações grosseiras, estereotipadas. E que, portanto, muitas ações sociais são realizadas com esse frágil fundamento _ não dar emprego a determinados tipos de pessoas por causa de seu sotaque ou da cor de sua pele ou do seu tamanho, por exemplo. [...]
Em terceiro lugar, as piadas são interessantes porque são quase sempre veículo de um discurso proibido, subterrâneo, não oficial, que não se manifestaria, talvez, através de outras formas de coletas de dados, como entrevistas. Outra face da mesma característica é que as piadas veiculam discursos não explicitados correntemente (ou, pelo menos, discursos pouco oficiais). [...]"

(POSSENTI, Sírio. Os humores da língua. Campinas, SP: Mercado de Letras. 1998. pp 25-6.)
Texto 6

Questão nº2 (valor: 1,0 ponto)

a) Segundo o enunciador do texto 5, sociólogos e antropólogos NÃO COSTUMAM ver as piadas como objeto de estudo. Transcreva do 2º parágrafo a palavra que indica essa idéia.

b) Em textos dissertativo-argumentativos, não é raro encontrar avaliações do enunciador expressas pela seguinte estrutura sintática: oração principal + oração subordinada substantiva subjetiva. Retire do 1º parágrafo do texto 5 um exemplo que fundamente essa afirmativa.

a) Resposta: poderiam.

b) Resposta: É uma pena que seja assim.

Questões: 1 | 2 | 3 | 4 | 5


Questão nº3 (valor: 1,5 pontos)

Que argumento(s) apresentado(s) no texto 5 para legitimar o estudo de piadas se relaciona(m) com a tira de Ziraldo? Justifique sua resposta.

Sugestão de resposta: O segundo argumento, principalmente: "piadas operam fortemente com estereótipos." A piada é construída com estereótipos sobre papéis e capacidades femininas e masculinas. Pode-se também ver uma relação entre esses estereótipos e "manifestações culturais e ideológicas, valores arraigados", citados no desenvolvimento do primeiro argumento.

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Texto 7


Questão nº 4 (valor: 1,0 ponto)

A partir da leitura da tira "Frank e Ernest" (texto 7), qual o conceito de sintaxe que está implícito na fala da personagem?

Sugestão de resposta: A sintaxe está relacionada à organização ou estruturação das palavras em sentenças.

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Texto 8
Ausentei-me da Cidade
porque esse Povo maldito
me pôs em guerra com todos
e aqui vivo em paz comigo.
Aqui os dias me não passam,
porque o tempo fugitivo,
por ver minha solidão,
pára em meio do caminho.
Graças a Deus, que não vejo
neste tão doce retiro
hipócritas embusteiros,
velhacos entremetidos.
Não me entram nesta palhoça
visitadores prolixos,
políticos enfadonhos,
cerimoniosos vadios.
(...)

 

(Gregório de Matos. Obras Completas. Org. James Amado. Salvador: Janaína, 1968. v. 1, p. 170.)


Texto 9

PENSÃO FAMILIAR

Jardim da pensãozinha burguesa.
Gatos espapaçados ao sol.
A tiririca sitia os canteiros chatos.
O sol acaba de crestar as boninas que murcharam.
Os girassóis
                               amarelo!
                                                                resistem.
E as dálias, rechonchudas, plebéias, dominicais.
Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçom de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.

Petrópolis, 1925.
(Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 10a ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983, p.95.)


Texto 10

"tinha treze anos quando perdi meu pai, em nenhum momento me cobri de luto, nem mesmo então sofri qualquer sentimento de desamparo, não estaria pois agora à procura de nova paternidade, seria preciso resgatar a minha história p'reu abrir mão dessa orfandade" "tenho de te cumprimentar pela proeza" ela disse ligeira "só mesmo você consegue ser ao mesmo tempo órfão e grisalho... há-há-há..." e desencaminhando o que eu dizia, seu sarcasmo forjou também um sutil desdobramento, sugerindo, ao me incluir na geração cinzenta, que isso me aporrinhava tremendamente, justo a mim, justo a mim que até cultivava precocidades de ancião, e ela sabia disso a pilantra, ela não ignorava, segundo seu próprio comentário, essa minha "supérflua veleidade", o que só vinha realçar então o atrevido contorcionismo da tirada (...) (eram brilhantes seus torneios de raciocínio, sem dúvida que ela merecia cumprimentos).

(Raduan Nassar. Um copo de cólera. 5a ed. São Paulo: Companhia das letras, 1992, pp 53-54.)


Questão nº 5 (valor: 3,0 pontos)

a)
O jogo de oposição de idéias é típico do Barroco. Justifique essa afirmativa com base no texto 8.

b) A abordagem crítico-humorística, presente no texto 9, possui características tipicamente modernistas. Indique a estrofe onde ela se manifesta mais claramente, exemplificando com elementos do texto as formas pelas quais essa crítica se constrói.

c) No texto 10, há indicação de que o narrador-personagem sente, ao mesmo tempo, ódio e admiração pela personagem feminina do texto. Transcreva a passagem que deixa evidente a existência da ADMIRAÇÃO.

d) Em oposição aos textos 8 e 9, nos quais a crítica se volta para aspectos sociais, o enfoque crítico contemporâneo, no texto 10, privilegia as relações entre indivíduos. Justifique essa afirmativa em relação ao texto 10, caracterizando o diálogo do casal como exemplo típico das tensões atuais entre homem e mulher.

a) Sugestão de resposta: O poema é construído a partir de oposições como guerra X paz; cidade X retiro, palhoça; convívio X solidão.

b) Sugestão de resposta: 2a estrofe. O poema critica indiretamente os moradores da pensãozinha - os burgueses - através da figura do gatinho, eleito a única criatura fina pelos seus gestos elegantes, mesmo quando executa ações prosaicas - fazer pipi e encobrir a mijadinha.

c) Sugestão de resposta: "(eram brilhantes seus torneios de raciocínio, sem dúvida que ela merecia cumprimentos)".

d) Sugestão de resposta: No texto 10, a crítica se dirige à pessoa do outro do diálogo, com o objetivo de feri-lo (a) e/ou agredi-lo (a). Amor e competição aliam-se nesta espécie de esgrima verbal, sem economia de sarcasmo, ainda que este seja amenizado por uma tentativa de humor: "...há-há-há...". O texto caracteriza a atualidade, quando as reivindicações de igualdade ainda causam atritos.


Questões: 1 | 2 | 3 | 4 | 5

Observação: Serão aceitas outras respostas, desde que atendam adequadamente aos requisitos de cada questão.