Português
Prova objetiva realizada no dia 07/12/98
Questões

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Costureira receberá indenização de ex-noivo

Casamento adiado por 17 anos vale 20 salários para mulher
"enganada"

      Belo Horizonte
- Abandonada pelo noivo depois de 17
anos de namoro, a costureira Nair Francisca de Oliveira está
comemorando um ganho inusitado: o Tribunal de Alçada de
Minas Gerais condenou o motorista aposentado Otacílio
Garcia dos Reis, de 54 anos, a pagar à ex-noiva uma inde-
nização de 20 salários mínimos por danos morais. Ela
receberá ainda 30% do valor da casa que os dois estavam
construindo juntos, em Passos, sudoeste de Minas. "Estou
cobrando pelo tempo que fui enganada", diz ela.

      Nair não revela a idade, diz apenas que tem mais de 40
anos. Ela lembra que, mais do que o término do namoro, o
que a fez decidir pela ação de danos morais foram as falsas
palavras de Otacílio. Ao romper com a noiva, ele disse que,
além de não gostar dela, sabia que não tinha sido o primeiro
homem de sua vida. "Me caluniou e humilhou minha família",
lamenta Nair, que não consegue explicar como pôde ficar
tantos anos ao lado de uma pessoa que ela diz, agora, não
conhecer.

      Otacílio foi longe ao explicar o motivo do fim do relaciona-
mento. Disse à ex-noiva que tinha por ela apenas um "vício
carnal" e que nenhum homem seria capaz de resistir aos
encantos de seu corpo bem feito. "Ele daria um bom ator",
analisa Nair, lembrando que, a cada ano, a desculpa para
não oficializar a união mudava. A costureira confessa que
nunca teve vontade de terminar o namoro, mesmo tendo-o
iniciado sem gostar muito de Otacílio. Ele teria insistido no
relacionamento. "Eu dei tempo ao tempo e acabei gostando
dele", afirma, frustrada com o tempo perdido, especialmente
pelo fato de não ter tido filhos. "Engraçado, eu nunca evitei.
Não sei por que não aconteceu."

      Papéis - A história de Nair e Otacílio começou em 1975.
Após quatro anos de namoro, ficaram noivos e deram entra-
da nos papéis para o casamento religioso. Na ocasião, já
haviam comprado um terreno, onde construíram a casa, que,
segundo Nair, foi erguida com o dinheiro de seu trabalho de
costureira, com a ajuda dos pais e também com dinheiro de
Otacílio. Hoje, o que seria o lar dos dois é uma casa alugada.
O advogado de Nair, José Cirilo de Oliveira, pretende reque-
rer uma indenização também pelo tempo de aluguel.

      Fiquei satisfeito com a vitória de Nair, não tanto pelo valor
da indenização, mas porque houve realmente a má intenção
por parte do ex-noivo", afirma Oliveira. Os juízes da 3a Câmara
Cível do Tribunal de Alçada também ficaram sensibilizados
com o caso da noiva abandonada. O relator do processo, juiz
Dorival Guimarães Pereira, justificou sua decisão destacan-
do que "o casamento é o sonho dourado de toda mulher,
objetivando com ele, a par da felicidade pessoal de constituir
um lar, também atingir o seu bem-estar social, a subsistên-
cia e o seu futuro econômico".

      A costureira, entretanto, afirma que não estava preocupa-
da com os ganhos financeiros do casamento.

(Roselena Nicolau - Jornal do Brasil, 11/08/1996)



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Indique a opção que mostra, em ordem cronológica, alguns acontecimentos da vida do casal retratado no texto.

Nair e Otacílio

(A) compram um terreno; ficam noivos; cancelam o casamento; brigam na justiça.

(B) começam a namorar; ficam noivos; compram um terreno; constroem uma casa.

(C) começam a namorar; ficam noivos; trocam acusações em público; terminam a relação.

(D) ficam noivos; compram um terreno; constroem uma casa; cancelam o casamento.

(E) ficam noivos; dão entrada nos papéis; brigam na justiça; alugam a casa.


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Sobre o texto, pode-se dizer que:

(A) o advogado alegou "má-intenção" porque Otacílio não queria pagar a indenização.

(B) Nair sempre foi apaixonada pelo noivo.

(C) o único meio de se conseguir felicidade pessoal é o casamento.

(D) a única motivação para a ação por danos morais foi o rompimento do noivado.

(E) o casamento é visto como uma forma de se atingir a realização pessoal sob variados aspectos.


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Aponte a opção em que a função sintática do termo cujo núcleo está sublinhado NÃO está correta.

(A) "... a pagar à ex-noiva uma indenização de 20 salários mínimos..." (l. 5-6) - objeto indireto

(B) "... mas porque houve realmente a má intenção por parte do ex-noivo..." (l.41-42) - agente da passiva

(C) "Abandonada pelo noivo depois de 17 anos de namoro..." - agente da passiva (l. 1-2)

(D) "Disse à ex-noiva que tinha por ela apenas um vício carnal..." (l. 20-21) - objeto indireto

(E) "Após quatro anos de namoro, ficaram noivos..." (l. 32) - predicativo do sujeito


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Indique a palavra resultante do mesmo processo de formação que "término" (l. 11).

(A) Fim.

(B) Processo.

(C) Ganho.

(D) Caso.

(E) Motivo.


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As orações reduzidas "Ao romper com a noiva" (l. 13) e "mesmo tendo-o iniciado" (l. 25-26) podem ser substituídas no texto adequadamente por:

(A) Porque rompeu com a noiva; se bem que o tenha iniciado.

(B) Quando rompeu com a noiva; desde que o tenha iniciado.

(C) Porque rompeu com a noiva; desde que o tinha iniciado.

(D) Desde que rompeu com a noiva; ainda que o tenha iniciado.

(E) Quando rompeu com a noiva; se bem que o tenha iniciado.


21

Assinale a opção em que todas as palavras se completam adequadamente com as letras entre parênteses:

(A) mi___to; ve___ame; e___emplar. (x)

(B) empeci___o; famí___a; estarda___aço. (lh)

(C) ___unidade; ___umidade; ___ombridade. (h)

(D) cabel___reiro; estrang___ro; praz___roso. (ei)

(E) di___ernir; di___ente; côn___io. (sc)


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Assinale a alternativa em que a regência NÃO está de acordo com a norma culta escrita da língua.

(A) "...objetivando com ele... também atingir o seu bem-estar social..."

(B) "Estou cobrando pelo tempo que fui enganada,…."

(C) "Ele teria insistido no relacionamento."

(D) "... nenhum homem seria capaz de resistir aos encantos de seu corpo bem feito."

(E) "Fiquei satisfeito com a vitória da Nair..."


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Classifique como verdadeira (V) ou falsa (F) cada uma das afirmações abaixo sobre a estrutura mórfica das palavras.

I - O elemento "i" grifado em "decidir" é do mesmo tipo que aquele grifado em "felicidade".

II - As palavras "ficaram" e "deram" apresentam desinências modo-temporais que podem ser usadas em dois tempos verbais diferentes.

III - "Indenização" e "abandonada" são palavras formadas a partir de substantivos.

IV - No texto, a palavra "comprado" (l. 34) tem as mesmas possibilidades de flexão que "abandonada" (l. 1).

V - Os sufixos de "motorista" e "costureira" apresentam o mesmo valor semântico.

(A) F - F - V - V - F

(B) F - V - F - F - V

(C) V - F - V - F - V

(D) V - V - V - F - F

(E) V - F - F - F - V


Texto 2

SEUS OLHOS

Oh! rouvre tes grands yeux dont la paupière
tremble,

Tes yeux pleins de langueur;
Leur regard est si beau quand nous sommes
ensemble!
Rouvre-les; ce regard manque à ma vie, il semble
Que tu fermes ton coeur.

Turquety

 






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Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
            De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
            Do mar vão ferir;

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
            Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, _ mais doce que o nauta
De noite cantando, _ mais doce que a frauta
            Quebrando a soidão.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
            De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
            Brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando
            Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; _ causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
            Com modo gentil.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
            Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranqüilos,
            Às vezes, vulcão!

Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
            Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece
            Me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranqüilo,
            Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
            Não pensa _ a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante,
            Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
            De pranto co'um véu.

Quer sejam saudades, quer sejam desejos
            Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram sem causa
            Um pranto sem dor.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
            De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia,
            Com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
            Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
            Com tanta paixão.

Gonçalves Dias, A. Poesia e Prosa Completas.
Rio de Janeiro, Ed. Nova Aguilar, 1998, pp. 131-132.



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Ao longo do poema, "os olhos" exprimem para o eu-lírico:

(A) desejos ocultos e apaixonados.

(B) harmonia de sentidos e ações.

(C) integração com os elementos da natureza.

(D) a pureza da inocência.

(E) sentimentos conflitantes ou opostos.


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Aponte a única opção cujas expressões NÃO são todas relativas aos "seus olhos" de que o poema trata.

(A) De noite cantando - brincando a sorrir - cismando mil coisas

(B) estrelas incertas - meigos infantes - vulcão

(C) puros - engraçados - tranqüilos

(D) nos pagam a dor de um momento - derramam... frouxo brilhar - me fazem chorar

(E) em jogo infantil - com modo gentil - com tanta paixão


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Com relação ao texto de G. Dias, podemos afirmar que a visão romântica se comprova:

(A) no emprego de metáforas e de constante adjetivação.

(B) na regularidade métrica encontrada no 1º e 4º versos de cada estrofe.

(C) na ótica objetiva e minuciosa adotada pelo eu-lírico.

(D) na escolha das rimas toantes e do esquema ABBA.

(E) no vocabulário rebuscado e no tom idílico.



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Podemos dizer que o poema:

(A) herda do Barroco a intensa religiosidade comprovada pelo binômio pecado/redenção.

(B) herda do Arcadismo o ambiente pastoril acentuado pela referência a elementos naturais.

(C) apresenta, em consonância com a estética do Parnasianismo, o gosto pela precisão descritiva de elementos da tradição clássica.

(D) apresenta, em consonância com a estética do Simbolismo, uma representação etérea e espectral do perfil feminino.

(E) comprova a influência literária européia na produção poética brasileira dos séculos XVIII e XIX, o que se atesta pela epígrafe utilizada.


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Aponte a única opção que apresenta um conjunto de palavras que, no texto, pertencem à mesma classe morfológica.

(A) luzir (l. 2) - ferir (l. 4) - sorrir (l. 13)

(B) que (o ar lhes falece) (l. 25) - que (o pranto umedece) (l. 26) - que (dorme tranqüilo) (l. 28)

(C) luzir (l. 11) - brilhar (l. 24) - dor (l. 40)

(D) dormentes (l. 3) - tormento (l. 16) - infante (l. 32)

(E) desejo (l. 35) - amo (l. 39) - vivo (l. 42)



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A TERCEIRA MARGEM DO RIO

      Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido
assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam
as diversas pessoas sensatas, quando indaguei a informa-
ção. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais
estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos
nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava
no diário com a gente - minha irmã, meu irmão e eu. Mas se
deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma
canoa.

      Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de
vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para
caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada,
escolhida forte e arquejada em rijo, própria para dever durar
na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito
contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava,
se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai
nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais
próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se
estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de
não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não
posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

      Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu
e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras,
não pegou matula e trouxa, não fez nenhuma recomendação.
Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas
persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou:
- "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu
a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir
também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas
obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega
que um propósito perguntei: - "Pai, o senhor me leva junto,
nessa sua canoa?"
Ele só retornou o olhar em mim, e me
botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que
vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai
entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu
se indo - a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Guimarães Rosa, J. Ficção Completa.
Rio de Janeiro, Ed. Nova Aguilar, 1994, p. 409.




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Segundo o Texto 3, na visão do menino:

(A) a mãe era uma pessoa brava e enérgica; o pai, metódico e calado.

(B) a mãe não aprovava a idéia de ver o marido levar o filho para caçadas e pescarias.

(C) a mãe era a responsável pela saída do pai.

(D) o pai o abandonou, porque não gostava dele.

(E) era bom viajar com o pai, mas era melhor ficar no aconchego do lar.


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Sobre o Texto 3, só NÃO podemos dizer que:

(A) apresenta cenário rural em que se percebem elementos arcaizantes.

(B) possui narrador de primeira pessoa que se mostra consciente de que seu narrar provém da memória.

(C) mostra, na figura feminina, traços da herança matriarcal.

(D) pretende reproduzir o linguajar dos habitantes da região retratada.

(E) desenha, com precisão, as características físicas, morais e psicológicas dos personagens.


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O Texto 3 apresenta:

(A) preocupação evidente com a realidade social das populações sertanejas marginalizadas.

(B) narração focada na complexidade e na aparente gratuidade das ações humanas.

(C) explicação determinista para o comportamento dos personagens.

(D) posição ufanista diante da terra e do homem brasileiro, sendo este visto como um ser desbravador e heróico.

(E) descrição detalhista das riquezas naturais caracterizadoras do ambiente enfocado.


32

I- "No diário" (l. 7) é o mesmo que "no cotidiano".

II- "Botou" (l. 33) é um antônimo informal de "deu".

III- "Trás" (l. 33) tem um homônimo de classe diferente.

IV- "Esbravejar" (l. 25) é sinônimo perfeito de "irritar-se".

Assinale a opção que apresenta as afirmações corretas.

(A) I, II e III, somente. (B) II, III e IV, somente.

(C) II e IV, somente. (D) Todas estão corretas.

(E) I e III, somente.


33

Indique a opção em que há uma quebra da regência tradicional do verbo, ampliando as possibilidades de significação do mesmo.

(A) "Ele só retornou o olhar em mim." (l. 32)

(B) "Nosso pai nada não dizia." (l. 16-17)

(C) "Encomendou a canoa especial..." (l. 10)

(D) "O rumo daquilo me animava..." (l. 30)

(E) "Nosso pai suspendeu a resposta." (l. 27-28)


34

Assinale a opção em que a vírgula NÃO poderia ser omitida, de acordo com as regras da norma culta da língua.

(A) "Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente..." (l. 6-7)

(B) "E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta." (l. 20-21)

(C) "... pelo que testemunharam as diversas pessoas sensatas, quando indaguei a informação." (l. 2-4)

(D) "Seria que, ele..." (l. 15)

(E) "Pai, o senhor me leva junto...?" (l. 31)


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Assinale a única afirmação INCORRETA a respeito dos dois textos literários.

(A) O poema faz alusão à infância numa nítida associação com o perfil da mulher amada, enquanto o conto pressupõe fatos acontecidos durante a infância do narrador.

(B) O título do conto encaminha o leitor para uma leitura metafórica do texto.

(C) No conto podem ser encontrados exemplos de discurso direto que, atualizando a fala do personagem, conferem ao texto densidade dramática.

(D) O poema pertence à primeira geração romântica brasileira, período iniciado com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, enquanto o conto é produção da última fase do Realismo brasileiro.

(E) No poema, os olhos retratados, embora belos e puros, traduzem, em certos momentos, noção de inconstância e passionalidade.