Português
Prova objetiva realizada no dia 08/12/97
Questões



Texto 1







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A BANALIZAÇÃO DE MARTE

Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong pisou na
Lua. O público da Terra, entre incrédulo e extasiado, parou
para ver o astronauta americano caminhar sobre a areia
cinzenta. Foi um dos maiores espetáculos da história da
televisão. Naquele instante, os domínios humanos se
estenderam até o frágil solo lunar. Tudo ao vivo. Agora, no dia
4 de julho, data da independência dos Estados Unidos, uma
nave americana pousou no planeta Marte. De dentro dela, um
jipe de seis rodas, o Sojourner, mais ou menos do tamanho
de um carrinho de bebê, saiu para dar uma volta. E ninguém
deu muita bola. Com velocidade espantosa, o passeio sobre
Marte virou banalidade.

A relativa indiferença do público pode ser explicada
por dois detalhes óbvios. Primeiro: embora esta seja a
primeira vez que um veículo terrestre trafega por entre as
pedras de Marte, não é a primeira vez que um engenho
humano chega lá. (Há 21 anos, as Viking I e II pousaram no
planeta.) O segundo detalhe é que não havia homem nenhum
na missão. Para excitar a platéia e fazê-la vibrar, seria preciso
pôr um personagem equilibrando-se em cima daquele jipe.
Faltou alguém com mulher e filhos torcendo por ele aqui da
Terra, faltou um herói para dar dramaticidade ao espetáculo.

Tudo bem com essa explicação, ela não está errada.
Mas talvez ela seja fácil demais e esconda outra razão, mais
interessante: o Sojourner não arrebatou os terráqueos porque
o olhar do telespectador contemporâneo já foi muito mais
longe do que o jipe.

Armstrong não era apenas um herói fabricado pela
agência de marketing chamada Nasa - que depende de
popularidade para garantir verbas governamentais e, portanto,
viabilidade. Armstrong de fato expandiu os limites da
civilização, ampliou o raio do espaço humano dentro do
cosmo. Com sua Apollo XI, ele levou o Homo sapiens até a
Lua e, mais importante, carregou junto as câmaras (os olhos
do público). Agora, o jipe Sojourner roda por uma paisagem
já familiar aos telespectadores, fotografada exaustivamente.
Marte estava gasto antes de ser conquistado.

Em 1969, era preciso que um homem, com seu
corpo, transpusesse o limite do olhar humano, alargando
assim o horizonte da visão e da imaginação. Hoje, as máquinas
cuidam de transportar esse olhar para muito além: em
seguida vão outras máquinas (como o jipe Sojourner) e só
muito depois irão as pessoas. Naves captam imagens de
Júpiter, telescópios enxergam cada vez mais distante. Cenas
longínquas do sistema solar são tão cotidianas quanto beijos
de novela e já não despertam grandes paixões. O planeta
vermelho, como a Lua, já não tem glamour.

Eugênio Bucci, in Veja, 16/07/97



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Indique a única expressão que NÃO apresenta idéia relacionada à afirmação "Com velocidade espantosa, o passeio sobre Marte virou banalidade." (linhas 11-12 ):

(A) "A relativa indiferença do público (...)" (linha 13)

(B) "E ninguém deu muita bola." (linhas 10-11)

(C) "Armstrong não era apenas um herói pela agência de marketing chamada Nasa (...)"(linhas 28-29)

(D) "(...): o Sojourner não arrebatou os terráqueos (...)" (linha 25)

(E) "Cenas longínquas do sistema solar são tão cotidianas quanto beijos de novela (...)" (linhas 44-46)



17

Indique a opção que apresenta palavras acentuadas segundo as mesmas regras das palavras abaixo, respeitada a sua ordem de aparecimento:

há - incrédulo - história - frágil - bebê - alguém

(A) já - Júpiter - telescópio - fácil - até - parabéns

(B) pôr - óbvio - herói - até - parabéns - está

(C) está - espetáculos - platéia - fácil - é - parabéns

(D) já - platéia - óbvio - fácil - fazê-la - além

(E) só - fazê-la - longínquas - platéia - está - ninguém



18

Aponte a opção em que as palavras agrupadas NÃO apresentam a mesma classificação quanto ao processo de formação:

(A) solar / lunar

(B) cena / areia

(C) independência / contemporâneo

(D) incrédulo / indiferença

(E) velocidade / espantosa



19

Indique em que par de palavras abaixo encontramos os mesmos prefixos com os mesmos sentidos presentes em ALARGANDO e INCRÉDULO:

(A) ajoelhando / introduzir

(B) acomodando-se / injetável

(C) amaciando / infalível

(D) alistando-se / indiferente

(E) abstendo-se / impassível



20

Indique a opção em que a expressão sublinhada tem a mesma função de "(…), entre incrédulo e extasiado, (...)" (linha 2):

(A) "Agora, no dia 4 de julho, data da independência dos Estados Unidos, (...)"(linhas 6-7)

(B) "(…) o passeio sobre Marte virou banalidade." (linhas 11-12)

(C) "De dentro dela, um jipe de seis rodas, o Sojourner, (...)" (linhas 8-9)

(D) "Com sua Apolo XI, ele levou o Homo sapiens até a Lua e, (...)" (linhas 33-34)

(E) "(...) era preciso que um homem, com seu corpo, transpusesse o limite do olhar humano, (...)" (linhas 38-39)



21

Indique a opção que apresenta a classificação correta das orações iniciadas por que:

a . "(...) não é a primeira vez que um engenho humano chega lá." (linhas 16-17)

b. "O segundo detalhe é que não havia homem nenhum na missão." (linhas 18-19)

c. "O olhar do telespectador contemporâneo já foi muito mais longe do que o jipe." (linhas 26-27)

d. "Armstrong não era apenas um herói fabricado pela agência de marketing chamada Nasa - que depende de popula-ridade(...)"(linhas 28-30)

e. "Em 1969, era preciso que um homem, com seu corpo, transpusesse o limite do olhar humano,(...)" (linhas 38-39)

(A) a. oração subordinada adjetiva restritiva

b. oração subordinada substantiva predicativa

c. oração subordinada adverbial comparativa

d. oração subordinada adjetiva explicativa

e. oração subordinada substantiva subjetiva

(B) a. oração subordinada adverbial temporal

b. oração subordinada substantiva objetiva direta

c. oração subordinada adverbial comparativa

d. oração subordinada substantiva apositiva

e. oração subordinada substantiva predicativa

(C) a. oração subordinada adjetiva restritiva

b. oração subordinada substantiva predicativa

c. oração subordinada substantiva completiva nominal

d. oração subordinada adjetiva explicativa

e. oração subordinada substantiva objetiva direta

(D) a. oração subordinada substantiva subjetiva

b. oração subordinada substantiva predicativa

c. oração subordinada adverbial consecutiva

d. oração subordinada adjetiva explicativa

e. oração subordinada substantiva objetiva direta

(E) a. oração subordinada substantiva objetiva direta

b. oração subordinada substantiva completiva nominal

c. oração subordinada adverbial consecutiva

d. oração subordinada substantiva apositiva

e. oração subordinada substantiva subjetiva



TEXTO 2




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"Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do
Ateneu. Coragem para a luta." Bastante experimentei depois
a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões
de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é
o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra
fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos
um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais
sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento,
têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima
rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita,
dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob
outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não
viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.

Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual
aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que
correram como melhores. Bem considerando, a atualidade é
a mesma em todas as datas. Feita a compensação dos
desejos que variam, das aspirações que se transformam,
alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma
base fantástica de esperanças, a atualidade é uma. Sob a
coloração cambiante das horas, um pouco de ouro mais pela
manhã, um pouco mais de púrpura ao crepúsculo - a paisagem
é a mesma de cada lado beirando a estrada da vida.

Eu tinha onze anos.

(Pompéia, Raul. O Ateneu (Crônica de Saudades),

S.P., Ática, 1979, p.11)



22

"(...), a atualidade é uma." (linha 20). O trecho significa que:

(A) a atualidade traz a compensação dos desejos.

(B) a atualidade tem sempre a mesma natureza, em qualquer momento.

(C) a atualidade é simplesmente uma mesma base fantástica de esperanças.

(D) a atualidade é um eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam.

(E) a atualidade é uma paisagem única, que só ocorre uma vez na estrada da vida.



23

Sobre o texto de Raul Pompéia, NÃO podemos afirmar que:

(A) o ambiente familiar da infância aparentemente protege a criança do mundo.

(B) a entrada no Ateneu marca o fim de uma etapa.

(C) o zelo familiar suaviza a rude impressão do contato com o mundo.

(D) o tempo vivido no Ateneu não é, em essência, diferente das demais fases da vida.

(E) todas as fases da vida são substancialmente semelhantes.



24

A estética realista-naturalista se caracteriza no texto:

(A) pela louvação da infância e das memórias como forma de reconstrução do real idealizado.

(B) pela temática voltada para as classes sociais desfavorecidas.

(C) pela linguagem simples adotada como forma de reprodução da fala do protagonista.

(D) pela escolha de um narrador de primeira pessoa que reforça a verossimilhança do narrado.

(E) pela figura do protagonista, narrador de primeira pessoa, que traça para si mesmo um perfil heróico, contestador e revolucionário.



25

NÃO podemos dizer que o texto:

(A) apresenta uma visão melancólica e dolorosa sobre a vida.

(B) destrói a ingênua ilusão romântica de tempos felizes passados.

(C) sofre influência da estética impressionista vigente no final do século XIX.

(D) estabelece com o leitor um pacto de cumplicidade através da utilização da primeira pessoa do plural.

(E) inaugura uma temática intimista precursora da narrativa proposta pela Semana de 22.



26

A palavra que NÃO pode substituir no texto rude (linha 8) é:

(A) rústica

(B) áspera

(C) severa

(D) rigorosa

(E) brusca



27

Indique a opção em que a palavra sublinhada é um adjetivo:

(A) "Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, (...)" (linhas 2-3)

(B) "Sob a coloração cambiante das horas, (...)" (linhas 20-21)

(C) "(...), diferente do que se encontra fora, (...)" (linhas 5-6)

(D) "(...); como se a mesma incerteza de hoje, (...)" (linha 11)

(E) "(...) e não viesse de longe a enfiada das decepções (...)" (linhas 12-13)



28

A função sintática de "(...) à impressão rude do primeiro ensinamento, (...)" (linha 8) é:

(A) adjunto adverbial de tempo

(B) adjunto adverbial de modo

(C) complemento nominal

(D) adjunto adnominal

(E) objeto indireto



TEXTO 3







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MARIETA

Como o gênio da noite, que desata
O véu de rendas sobre a espádua nua,
Ela solta os cabelos ... Bate a lua
Nas alvas dobras de um lençol de prata.

O seio virginal, que a mão recata,
Embalde o prende a mão ... cresce, flutua ...
Sonha a moça ao relento ... Além na rua
Preludia um violão na serenata! ...

... Furtivos passos morrem no lajedo ...
Resvala a escada do balcão discreta
Matam lábios os beijos em segredo ...

Afoga-me os suspiros, Marieta!
Ó surpresa! ó palor! ó pranto! ó medo!
Ai! noites de Romeu e Julieta! ...

Castro Alves, Antônio de. Os anjos da meia-noite.
In: Poesia. 4. ed. Rio de Janeiro, Agir.
1972. p.59. (Col. Nossos Clássicos)

Vocabulário:
espádua: ombro
recatar: encobrir, ocultar
embalde: em vão, inutilmente, debalde
preludiar: iniciar, ensaiar antes de começar a cantar ou a tocar
palor: palidez



29

Sobre o poema lido só NÃO podemos dizer que:

(A) a adjetivação utilizada contribui para a idealização da cena.

(B) a presença constante de reticências enfatiza o cenário íntimo e a atmosfera de sensualidade.

(C) a idealização da mulher se reforça através de alusão a personagem trágica.

(D) a natureza retratada rompe a atmosfera propícia ao enlevo amoroso sugerido.

(E) o uso de expressões exclamativas ressalta a exacerbação sentimental do eu-lírico.



30

A estética romântica apresenta, como uma de suas características, o rompimento com as regras clássicas que definiam temas e estruturas formais apropriadas ao texto poético. Castro Alves, no entanto, conserva, neste poema, traços clássicos, o que pode ser visto:

(A) na alusão a elementos musicais.

(B) na menção a personagens mitológicos.

(C) no uso reiterado de metáforas.

(D) na referência à espiritualidade.

(E) na escolha de métrica regular e forma fixa.



31

Aponte a única opção em que as palavras retiradas do texto NÃO pertencem todas à mesma classe gramatical:

(A) alvas / discreta / recata

(B) desata / preludia / resvala

(C) dobras / relento / palor

(D) nua / virginal / furtivos

(E) espádua / violão / segredo



32

A função sintática de "Afoga-me os suspiros, Marieta!"(linha 12) está indicada na opção:

(A) objeto indireto

(B) pronome pessoal do caso oblíquo

(C) objeto direto

(D) pronome possessivo

(E) adjunto adnominal



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Assinale a alternativa em que o sujeito NÃO está em posição invertida:

(A) "Bate a lua / Nas dobras de um lençol de prata." (linhas 3-4)

(B) "Matam lábios os beijos em segredo ..."(linha 11)

(C) "Como o gênio da noite, que desata / O véu de rendas (...)"(linhas 1-2)

(D) "Sonha a moça ao relento..." (linha 7)

(E) "Além na rua / Preludia um violão na serenata!..." (linhas 7-8)



34

Os dois textos literários lidos exibem uma linguagem rica em figuras. Assinale o exemplo cuja classificação está incorreta:

(A) "Como o gênio da noite (...)"- símile

(B) "Ó surpresa! ó palor! ó pranto!" - apóstrofe

(C) "Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, (...)" - metáfora

(D) "Embalde o prende a mão..."- hipérbole

(E) "(...) como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora (...)"- antítese



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Em relação aos dois textos literários lidos, só NÃO podemos dizer que:

(A) o texto de Raul Pompéia exige do leitor o raciocínio lógico já que se propõe a defender uma idéia.

(B) o texto de Castro Alves convoca a imaginação do leitor já que trabalha com sugestões em torno de imagens visuais.

(C) os dois textos são representativos de gêneros literários diferentes.

(D) os dois textos, embora produtos do século XIX, pertencem a estéticas diferentes.

(E) o poema, através do eu-lírico, e a narrativa, através do narrador, tratam sobretudo objetivamente seus respectivos temas, embora pertençam a estilos literários diferentes.