Fragmentos
O
pano, a tinta, a torção, o acaso. O amassado, as marcas dos movimentos
das mãos, os fios que se desprendem, o corte que ocorre de forma precisa
se transformam subitamente em algo inesperado, inusitado, surpreendente.
O
fascínio que as obras de Marilou Winograd exerce sobre o fruidor,
desperta uma atmosfera de divagações e recordações
ilusoriamente ligadas ao passado. Funcionam como "receptáculos do
imaginário" e espalham uma carga simbólica que envolve todo
o ambiente.
Estes
fragmentos ou pormenores não tiveram seus inteiros destruídos, não
fazem a trajetória do regresso, nem pressupõem uma hipótese
parcial ou singular e podem ser através de um critério específico
de observação, remetidos ao seu significado global. Autônomos,
são seu próprio inteiro no qual a valorização de seu
aspecto decorre de uma estética determinada.
A
sensação de fragilidade, de espectro, é passageira e se dissipa
através da observação de seus detalhes e do jogo de luz e
sombra que o branco proporciona.
A
eterna questão do branco sobre o branco não neutraliza o embate
entre o fragmento e o quadrado. Ele o incorpora mas não o absorve; mantém
uma reciprocidade onde a pulsação do volume não elimina a
natureza poética do todo. Estes trabalhos nos permitem "ver"
o desenvolvimento destas questões porque se encontram numa situação
espacial multidimensional e única, transmitindo a experiência visual
e intelectual da arte de todos os tempos.