|
No
período "Kaiser" Munique era, no final
do século XIX uma cidade alegre e cosmopolita, embora não
possuísse o espírito que caracterizava os parisienses
da "belle époque", pois a curiosidade, o gosto
pelo experimento e a necessidade de exploração além
dos limites não eram seu forte. Tinha porém uma
despreocupação anárquica e um senso tradicional
voltado para o cômico, o ridículo e o incomum fazendo
com que seus cidadãos tolerassem os artistas "estrangeiros".
Foi nesta mesma Munique que no dia 1º de abril de
1896 foi publicada pela primeira vez uma revista semanal com o
curioso título de "Simplicissimus", com
uma circulação de 480.000 cópias ao preço
unitário de apenas 10 centavos. Embora vendesse somente
1.000 exemplares , o periódico era uma sensação.
O objetivo da revista "Simplicissimus" era submeter
o empreendimento sério e honesto nas artes e na literatura
à uma crítica igualmente séria e honesta.
A parte literária contou com nomes como Ludwig Thoma, os
irmãos Heinrich e Thomas Mann, Rainer Maria Rilke e Hermann
Hesse.
A crítica era seu objetivo principal - mas a arte
era essencial. As caricaturas de "simplicissimus"
não são apenas piadas ilustradas, mas sim desenhos
elaborados segundo uma nova concepção estética.
Dizem
que a caricatura vive do objeto que ataca e morre com ele. Isso
não é verdade com relação ao "Simplicissimus".
Os desenhos permanecem eloqüentes. São caricaturas
fiéis, que não distorcem, mas esclarecem. Seus objetos
são ridículos em si mesmos, não há
necessidade de ridicularizá-los mais. Entre seus caricaturistas
mais famosos, encontramos: Thomas Theodor Heine, Eduard Thöny,
Bruno Paul, Rudolf Wilke, Wilhelm Schulz, Olaf Gulbransson, Ferndinand
v.Rezniecek.
A presença da Política Internacional tem mais
destaque no Simplicissimus durante a época de Weimar
do que nos dias do Império. Mais do que antes a guerra ela
exerce ação direta sobre a vida cotidiana. Pedidos
de indenização, conferências de desarmamento,
a Liga das Nações Unidas, a União Soviética
e os Estados Unidos da América, a crise econômica mundial
- todos esses temas eram de interesse primordial, que eram debatidos
pela família à hora da refeição, na
rua, no escritório, no trabalho. O Simplicissimus
não só consegue captar os problemas vitais, como lhes
dar um destaque único através de suas inimitáveis
caricaturas. Logo os inimigos internos da República são
reconhecidos: os grandes proprietários de terras, tentando
recuperar o prestígio que tiveram no Império, os industriais
preocupados unicamente com o seu lucro, os juízes repressivos,
o clero reacionário e os militares de sempre, em nada perderam
seu antigo jeitão. Trocaram os monóculos e as polainas
de couro por bombachas e bonés esportivos , não desmontam
mais cavalos de raça, mas desembarcam de chiques cupês,
frequentam agora os American Bars em lugar dos cassinos; eles ainda
ostentam as velhas caretas, usando o mesmo tom impertinente, só
que ligeiramente modernizado. As suas fileiras foram reforçadas
pela pequena burguesia, impressionante em número, mas politicamente
nada esclarecida, o tipo burguês de cabeça-bola e pescoço-presunto,
o puritano de feições contraídas, o jovem malcriado
e atrasado, de testa franzida fingindo concentração
e, chefes de partido, preocupados em não deixar passar a
oportunidade alguma de comprar brigas por argumentos comprovando
bitolação aguda. |