Reitoria

Saúdo os prezados membros da comunidade universitária, jesuítas e leigos, colaboradores e colaboradoras da PUC-Rio.

Faz parte da missão do Provincial dos Jesuítas do Brasil visitar e acompanhar as diversas obras que estão sob sua jurisdição, como a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, uma obra confiada pela Igreja à Companhia de Jesus. Inicialmente, quero prestar minha gratidão pelo esforço e dedicação de tantos de vocês que constroem essa história dia a dia, há mais de oitenta anos. São rostos concretos de pessoas que trabalham incansavelmente no ensino, na pesquisa e na extensão, empenhados na formação integral da pessoa humana. De fato, a PUC-Rio formou grandes quadros de cidadãos comprometidos com a sociedade. Daqui saíram iniciativas de grande valor, com impacto real em políticas socioeconômicas e educativas.

Os sinais dos tempos nos interpelam e, ao fazer memória agradecida de tanto bem recebido, somos levados a contemplar a realidade que nos cerca e suas necessidades, agravadas por crises da atualidade e pela pandemia. Um olhar mais atento nos convida, por isso, a confiar no futuro, como inspira o Papa Francisco, quando nos exorta a começar processos novos, a acompanhá-los e avaliá-los. Ele também nos ensina que cada iniciativa precisa incidir concretamente na vida do mundo, no local e no global, com resultados efetivos e transformações duradouras.

Acabamos de viver intensamente um ano jubilar, comemorando os 500 anos da conversão de Santo Inácio de Loyola, nosso fundador. Essa experiência foi fonte de inspiração por meio dos Exercícios Espirituais. Com Inácio de Loyola, aprendemos “a ver novas todas as coisas em Cristo”, para não nos deixar desanimar diante da dor causada por um mundo doente, ferido e cansado, deteriorado em tantas instâncias da esfera pública e dos seus processos democráticos.

Nesse sentido, o Plano Apostólico da Província dos Jesuítas do Brasil nos provoca a nos sentirmos responsáveis uns pelos outros, conscientes de nossas fragilidades e vulnerabilidades. A procura pelo bem comum deve tornar-nos mais comprometidos com a cultura do cuidado e da solidariedade, impulsionando-nos a defender a dignidade de toda pessoa humana. A cultura da transparência em todas as dimensões e estruturas em que vivemos sempre nos ajuda a recuperar ações concretas e eficazes num verdadeiro processo de conversão. Caso contrário, estaremos longe de ser a Universidade que desejamos: sustentável e com altos níveis de excelência acadêmica, porque extremamente humana e consciente de sua responsabilidade social.

A nova gestão da PUC-Rio, que confirmamos com esta nossa visita, manifesta profunda sintonia com o Plano Apostólico e com a própria maneira de proceder com a Companhia de Jesus alinhada, ainda, nas Preferências Apostólicas Universais, a saber:

(1) Mostrar o caminho para Deus através dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola e da prática do discernimento;

(2) Caminhar com os pobres, os descartados do mundo, os vulneráveis, em sua dignidade em uma missão de reconciliação e justiça;

(3) acompanhar os jovens na criação de um futuro cheio de esperança;

(4) Colaborar no cuidado da Casa Comum. Estas preferências constituem, assim, o sentido e a direção, a cartografia de nossas ações, ponderando os lugares privilegiados de nossas intervenções.

Sabemos que o novo Reitor, Pe Anderson Antonio Pedroso, S.J., juntamente com a equipe, na qual o Pe. André Luís de Araújo, S.J. assume como Vice-reitor Geral e o Professor Marcelo Gattass assume como Vice-reitor para Assuntos de Desenvolvimento, deu início a um processo de renovação na continuidade e fidelidade criativa. Os três Grupos de Trabalho anunciados por essa gestão irão se debruçar nos temas da Sustentabilidade Financeira, da nova Lei de Extensão e da Identidade Visual; áreas que permeiam a PUC como um todo, evidenciando o seu caráter sistêmico, fundamental para a necessária reestruturação da Universidade. A partir dessa iniciativa, a Reitoria poderá tomar decisões de maneira assertiva.

Gostaria de indicar algumas "pistas", a partir do Plano Apostólico da Província do Brasil:

(1) É preciso assimilar e colocar em prática o método de discernimento apostólico individual e institucional, se quisermos ser coerentes e garantir a legitimidade de nossos processos de tomada de decisão.

(2) Além disso, torna-se essencial intensificar e promover, em diálogo com a Rede de Promoção da Justiça Socioambiental, reflexões e programas de extensão, que busquem soluções conjuntas para enfrentar os impactos ambientais, as crises sistêmicas e o empobrecimento da população. Esse compromisso toca principalmente as Instituições de Ensino Superior.

3) De igual modo, é urgente que uma Universidade como a PUC possa incluir a escuta dos jovens, para ajudá-los na releitura e na elaboração de seus projetos de vida, avaliando suas trajetórias pedagógicas, em vista dos serviços pastorais prestados, no respeito às diferenças e aos sentidos de pertença religiosa, formando-os para o protagonismo pessoal, eclesial e social.

(4) Não menos importante é a compreensão do sentido de uma ecologia integral que demonstra que “tudo está interligado”. Promovemos, nos nossos meios universitários, o respeito ao meio ambiente, em sintonia ao cuidado com a nossa Casa Comum, explicitando o nosso “amazonizar”, isto é, quando nos damos conta de que a nossa “Querida Amazônia”, no dizer do Papa Francisco, não está assim tão longe de nós ou alheia a nossa vida. Essas "pistas" são fruto de discernimento comum e orientam nossas ações e práticas, nas obras da Companhia de Jesus, tal qual a nossa querida PUC-Rio.

Quero mais uma vez demonstrar minha gratidão à comunidade universitária e desejar profícuo sucesso àqueles que assumem esta nova missão. Neste momento de renovação na continuidade e de fidelidade criativa, contemos uns com os outros, com confiança e esperança no fortalecimento de nossa comunidade e no futuro que está por vir.

Obrigado.

Padre Miêczysláw Smýda, S.J.
Provincial dos Jesuítas do Brasil

Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2022