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Brasão da PUC-Rio

Coordenação Central de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação em Filosofia

Projetos de pesquisa

Prof. Danilo Marcondes de Souza Filho

A descoberta de si e a descoberta do outro. A França Antártica e a Nova França nos escritos fanceses do séc. XVI (apoiado pelo CNPq)
(La découverte de soi et la découverte de l'autre. La France Antartique et la Nouvelle France dans les écrits français du XVIe. e du XVIIe siècles.)

Projeto de pesquisa em conjunto com as universidades de Sherbrooke e de Laval no Québec, Canadá, financiado por essas universidades e pelo CNPq através de edital Universal.
Minha participação no projeto consiste em analisar os autores franceses (Jean de Léry e André Thevet, principalmente) que escreveram sobre o Novo Mundo, no caso especificamente o Brasil, e que influenciaram diretamente a obra de Michel de Montaigne, sobretudo quanto à visão de natureza humana (ver p.ex. "Os Canibais" nos Ensaios). O questionamento da universalidade da natureza humana a que leva essa discussão é uma das formas caraterísticas do cetisimo moderno em sua diferença em relação ao ceticismo antigo.

Ética e Realidade Atual (apoiado pela FINEP e pela FAPERJ)
O objetivo é realizar pesquisas sobre o processo de tomada de decisão nas organizações e sobre suas implicações éticas com base nas principais teorias éticas contemporâneas.
O projeto é interdisciplinar e inclui bolsistas de graduação e de pós-graduação dos departamentos de Filosofia, Direito e Administração.
Site do projeto: http://www.puc-rio.br/era

Pragmática e Filosofia da Linguagem
Discussão da divisão tradicional das áreas de estudo da linguagem em sintaxe, semântica e pragmática, examinando as origens históricas desta distinção e os seus pressupostos epistemológicos e metodológicos. Com base nessa discussão inicial propõe-se uma defesa de uma concepção pragmática da linguagem. Serão examinadas em seguidas propostas de desenvolvimento dessa concepção, sobretudo com base no conceito wittgensteiniano de “jogo de linguagem”, na teoria dos atos de fala de Austin e Searle e na lógica conversacional de H.P.Grice.

 


Profª Déborah Danowski

Pensamentos do declínio (apoiado pelo CNPq)
A partir dos anos 1990, quando se formou o consenso científico sobre o aquecimento global antropogênico e foi-se tornando cada vez mais evidente a gravidade da atual crise ambiental e civilizacional, vêm se configurando de maneira cada vez mais nítida dois movimentos opostos no domínio discursivo. Enquanto os cientistas publicam cada vez mais artigos que alertam para a probabilidade de que, dada a manutenção e mesmo a aceleração da taxa de emissões humanas de GEE, a vida na Terra enfrente em breve uma situação catastrófica, o uso de expressões como “fim da civilização”, “catástrofe”, “extinção” ou mesmo apenas "decrescimento" ou “declínio” provoca na maioria das vezes fortes reações de aversão, exceto quando para se referir a catástrofes ancestrais, ao fim de outras civilizações ou ao declínio e extinção de populações de espécies vivas não humanas. Passa-se do pressuposto de que o sistema econômico predominante nas sociedades atuais é incompatível com o decrescimento à afirmação de que o decrescimento ou a redução sequer são uma ameaça, que dirá uma opção. Que podemos superar qualquer limite. Que nós (humanos) não podemos estar em declínio, e por isso a catástrofe não pode ser real. Diz-se que a crise ecológica simplesmente não existe, ou que ela existe porém não é tão grave assim, já que certamente será resolvida a tempo por nossos governantes, sempre afinados com os últimos melhoramentos tecnológicos.

De outra parte, porém, temos visto uma crescente quantidade de discursos, acadêmicos e extra-acadêmicos, anunciando algo que até agora parecia estar excluído do horizonte histórico e humano: o fim iminente de nossa civilização ou até de nossa espécie, imaginado seja como consequência de uma catástrofe planetária súbita, ou como um processo progressivo e inexorável de degradação de suas condições de existência, vigentes durante o Holoceno, a ponto de tornar o futuro próximo radicalmente imprevisível, ou mesmo inimaginável fora dos quadros da ficção científica ou das escatologias messiânicas. Na filosofia, se não quisermos remontar até os anos 1950-60 com Anders e suas profundas considerações acerca da ameaça de holocausto nuclear, podemos mencionar autores como Latour e Stengers, entre vários outros, que têm tematizado cada vez mais abertamente a probabilidade de enfrentarmos em breve uma situação ambiental, econômica, política e social catastrófica, isso sem falar na emergência recente de argumentos metafísicos sofisticados (como é o caso de alguns autores associados ao “realismo especulativo”) que, ainda quando não mencionam diretamente a crise ecológica, são, a meu ver, fortemente influenciados pela consciência dessa crise, na medida em que propõem uma superação especulativa do mundo-para-o-homem, de forma a aceder aos objetos mesmos, a um “mundo-sem-nós”, ou uma superação do mundo-como-sentido, de modo a constatar o Ser como pura exterioridade indiferente ao pensamento e à vida em geral.

O objetivo mais geral deste projeto é tentar levar a sério esses diversos discursos sobre o fim do mundo, tomando-os como experiências de pensamento acerca da virada da aventura antropológica ocidental para o declínio, isto é, como esforços de invenção de uma mitologia adequada ao nosso presente.

As naturezas da natureza (projeto concluído)
O objetivo deste projeto é, por um lado, tentar avaliar quais os sentidos predominantes que a noção de natureza assumiu no mundo contemporâneo, neo-liberal e globalizado, e de que maneira esses sentidos contribuem para a grave crise ecológica planetária; e, por outro lado, buscar no pensamento filosófico ou em disciplinas afins sentidos alternativos, não essencialistas e pluralistas, que permitam vislumbrar possíveis saídas para a crise.

Leibniz e a noção de perspectiva (apoiado pelo CNPq) (projeto concluído)
São dois os objetivos principais deste projeto: 1) levar a cabo um estudo sistemático e aprofundado dos conceitos de perspectiva e de ponto de vista na obra de Leibniz. 2) mostrar que há uma diferença, e também uma relação, entre duas abordagens em que esses conceitos aparecem na obra de Leibniz: as diferentes perspectivas do mundo como constituindo as diferentes substâncias criadas, e as diferentes perspectivas como constituindo os diversos níveis fenomênicos.

A Tipologia das Almas em Leibniz (apoiado pelo CNPq) - projeto concluído
Os objetivos mais amplos do projeto são investigar a tipologia tripartite das almas feita por Leibniz em alguns textos centrais da maturidade, e relacionar essa tipologia com a tese do caráter imprescindível da existência de percepções confusas e obscuras nos três gêneros de almas. O objetivo imediato é analisar a relação e a fronteira entre dois eixos de infinitude que parecem caracterizar, de modos diferentes, os três tipos de substâncias: aquele que chamarei de eixo horizontal, que caracteriza o ponto de vista próprio de cada substância (e que deve por isso estar presente em todas elas), e um eixo vertical, que só tem lugar nos espíritos, capazes de séries auto-reflexivas que, como Leibniz, nos elevam cada vez mais “acima  de nós mesmos”.

Perfeição e Temporalidade em Leibniz (apoiado pelo CNPq)- projeto concluído
O objetivo é investigar o modo como se relacionam, no pensamento maduro de Leibniz, as noções de perfeição e de temporalidade, tanto “extrinsecamente”, pela análise de seu modelo histórico decorrente da hipótese de um Retorno ou Restituição Universal das substâncias ao longo de ciclos temporais ascendentes, como “intrinsecamente”, pela análise de sua concepção de uma temporalidade, cíclica ou não, inseparável do processo de aperfeiçoamento das próprias substâncias.

 


Prof. Edgar de Brito Lyra Netto

O lugar da interrogação filosófica na era técnica
A pesquisa se organiza em torno do lugar do pensamento filosófico num mundo progressivamente mais técnico, palco de transformações cada vez mais substanciais e velozes, possivelmente irreversíveis e imprevisíveis em seus desdobramentos. Ocupa-se, mais pontualmente, do possível desenvolvimento de interfaces entre a Filosofia e a sociedade contemporânea, visando à irrigação desta última com a necessária interrogação sobre o sentido do seu atual desenvolvimento. Lida, em suma, com injunções éticas, políticas e pedagógicas, tendo como referências Martin Heidegger e Hannah Arendt (discussão sobre a atual hegemonia tecnológica), e a Retórica de Aristóteles (revisão das possibilidades e formas de compartilhamento do pensar filosófico).

Ciência, natureza, informações e saberes (projeto concluído)
Coordenação: Maria José Carneiro (CPDA/UFRRj) e
Rejan Bruni (PUC-Rio/JBRJ)
Colaborador: Edgar Lyra (PUC-Rio)
http://r1.ufrrj.br/cpda/cinais/equipe.html
O recurso crescente a argumentos científicos e técnicos na consolidação e legitimação de decisões no âmbito da prática política tem colocado um novo desafio à sociedade, que afeta diretamente o campo da produção do conhecimento e o da elaboração de políticas públicas, qual seja, a necessidade de se criar mecanismos que facilitem e agilizem a comunicação entre a produção do conhecimento e os tomadores de decisão na esfera pública. A rapidez com que consensos científicos são refeitos com base em uma produção de conhecimento cada vez mais vasta e complexa acrescenta enormes dificuldades a essa comunicação. Como dar conta da amplitude e diversidade dessa produção, incluindo os saberes da população local e, ao mesmo tempo, como torná-la acessível aos tomadores de decisão sobre leis e medidas que afetam diretamente a sociedade? Como estreitar os mecanismos de comunicação entre uma esfera e outra, de maneira a oferecer um leque, o mais amplo possível, de alternativas sustentadas em conhecimentos consolidados e devidamente demonstrados? Quais são os conhecimentos mobilizados pelos gestores de políticas públicas (ou tomadores de decisão) e quais os caminhos de acesso a tais fontes? Até que ponto a maneira como a validação empírica dos conhecimentos mobilizados na ação (política) é efetivamente explicitada, avaliada e levada em conta pelos formuladores de políticas públicas? Essas são algumas das questões que mobilizam os pesquisadores deste grupo a investigar as relações entre o homem e a natureza, em uma abordagem multidiciplinar. O projeto foi conluído com a publicação do capítulo “Para quem Fala a Ciência – limites e possibilidades da interface entre ciência e política”de autoria de Maria José Carneiro (UFFRJ), Edgar Lyra (PUC-Rio), Teresa da Silva Rosa (UVV) e Laila Sandroni (UFRRJ), no livro Ambiente e Sociedade na Amazônia – uma abordagem interdisciplinar, Garamond/Museu Goeldi/INCT, 2014.

Implícitos antropológicos do debate ambiental
Este projeto de pesquisa envolve dois movimentos. O primeiro concerne ao cenário contemporâneo no qual se institucionalizou o chamado “debate ambiental”. Esse primeiro movimento pauta-se pela chamada de atenção para a atual inexistência de uma discussão mais substancial sobre o homem, como ente cujas necessidades devem ser prioritária e imperativamente satisfeitas, agora de forma sustentável. O segundo esforço é o de irrigar esse debate, tão organicamente quanto possível, com questões postas a partir da obra de Martin Heidegger. Não se pretende com isso reivindicar para esse filósofo nenhuma verdade definitiva sobre o homem e seus direitos em relação ao cosmos, mas encontrar meios de avançar discussões decerto seminais dentro do atual quadro de urgências e promessas. São discutidas tanto as modificações nas relações hegemônicas com a natureza (por exemplo, impactos da tecnologia sobre o ambiente), quanto os horizontes de transformação da condição humana (por exemplo, o transhumanismo e as modificações técnicas do nosso ser no mundo). 

 


Prof. Edgar José Jorge Filho

Filosofia Teórica e Filosofia Prática em Kant
Pretende-se dar continuidade à investigação de aspectos da Filosofia Teórica e da Filosofia Prática de Kant, especialmente de seus fundamentos, bem como à pesquisa das relações entre essas duas divisões do sistema filosófico kantiano.

Ética e a questão ambiental
Pretende-se investigar se há modelos de ética adequados para avaliar e reorientar a relação do homem com o meio ambiente, que se caracteriza até agora como uma utilização altamente predatória dos recursos naturais, geradora de uma crise ambiental sem precedentes e que representa uma gravíssima ameaça para o futuro. Reconhecendo-se tais modelos, caberia identificar-lhes os pressupostos e examinar a justificação dos mesmos. Para começar, pode-se propor como candidatas a Ética da Responsabilidade, de Hans Jonas, e as variantes das Éticas Ecocêntricas.

 


Profª Irley Franco

Trágico, Tragédia e Filosofia
O objetivo primeiro da pesquisa é investigar o sentido de trágico em Nietzsche, já que este filósofo, que intitulava a si mesmo de “trágico”, não pensa a tragédia como mero gênero literário, como o faz, por exemplo, Aristóteles em sua Poética, mas confere a ele uma dimensão ontológica (ou cosmológica) na forma do eterno retorno, da repetição eterna do lance de dados como necessidade do acaso. Uma vez compreendido o sentido de trágico em Nietzsche, esta pesquisa passa, então, para um segundo objetivo, o de compreender como uma filosofia trágica compreende a tragédia, ou seja, sob que termos a arte trágica, sobretudo a de Ésquilo, Sófocles e Eurípides, é compreendida por uma filosofia que se diz igualmente trágica. O resultado que daí se espera é uma compreensão imanente do trágico, isto é, uma compreensão trágica do trágico, que, com Nietzsche, deixa de ser simples tragédia, gênero artístico, para se tornar visão de mundo e parâmetro de avaliação da vida.

 


Prof. Ludovic Soutif

Referência e pensamento: uma investigação crítica do singularismo (apoiado pelo CNPq-Bolsa PQ)
O presente projeto dá sequência ao projeto anterior concluído em 2015. Trata-se de investigar criticamente diversas propostas de defesa do singularismo, isto é da tese de acordo com a qual nem todos os nossos pensamentos sobre o mundo são gerais ou qualitativos, sendo alguns dentre eles direta e genuinamente acerca de objetos particulares. Buscaremos defender essa tese diante das objeções dos generalistas. No entanto, não basta defendê-la por meio de argumentos filosóficos gerais. É preciso estabelecer a maior plausibilidade do singularismo com relação às questões mais disputadas hoje na interface entre teorias da referência e do pensamento. Entre elas, a de saber se basta que o conteúdo (do pensamento) seja singular para que o próprio episódio mental seja; a da legitimidade das inferências imediatas da referência ao pensamento singular; a da existência ou não de espécies semânticas e cognitivas naturais; a da necessidade ou dispensabilidade de requisitos epistêmicos tais como o de acquaintance ou do conhecimento discriminatório do objeto pelo sujeito; ou ainda da natureza dos mecanismos cognitivos envolvidos na formação de representações singulares de objetos.

O pensamento singular: aspectos semânticos, metafísicos e cognitivos (apoiado pela PUC-Rio e pelo CNPq- Edital Universal 14/2012)- Projeto concluído em 2015.
A questão da natureza de nossos pensamentos sobre o mundo está no centro de atuais debates em filosofia analítica na interface entre filosofias da linguagem, da mente e da lógica, metafísica e epistemologia. Um aspecto do debate diz respeito à contraposição entre pensamentos singulares e gerais (ou descritivos). Costuma-se definir aqueles como pensamentos sobre particulares enquanto particulares (em contraposição a instanciadores de propriedades). Há controversa sobre o que faz com que um pensamento seja singular. Há quem (na verdade, uma tradição inteira de pensadores herdeiros dos teóricos da referência direta: Kripke, Kaplan, Donnellan, etc.) acha que devem ser explicados em termos de relação a conteúdos singulares no quadro de uma teoria metafísica de proposições. Outros (e.g. Crane, Azzouni, Jeshion) preferem explicar o fenômeno em termos cognitivos ou psicológicos. Outros ainda (e.g. Recanati) tentam combinar ambos os tipos de explicação. Meu objetivo no presente projeto é contribuir ao debate ao defender uma abordagem do fenômeno integrando os aspectos ressaltados por esses diversos modelos.

Variedades do expressivismo lógico
Trata-se de um projeto em história da filosofia analítica e da lógica. O propósito é destacar e estudar criticamente versões possíveis da tese de acordo a qual a lógica tem, antes de tudo, uma função expressiva (ou, como se diz às vezes, “estética”). Há a versão de Brandom (1994) de acordo com a qual o papel da lógica (isto é, da lógica predicativa de primeira ordem, enriquecida pelas locuções que explicitam o conteúdo representacional das atitudes proposicionais: "acerca de", "de") é tornar explícitas, ou seja, codificar as normas implícitas em nossas práticas de aplicação de conceitos. Mas existe outra versão defendida, a meu ver, por Frege (1879) e Wittgenstein (1922) de acordo com a qual a tarefa da lógica é articular nosso pre-entendimento da identidade lógica das expressões linguísticas tal como representadas pelos simbolismos formais. A concepção fisionômica que está por trás dessa concepção “estética” da lógica desempenha um papel central, por exemplo, na teoria fregeana da identidade lógica das expressões conceituais (Begriffswörte) e ainda na resolução do problema da inefabilidade da categoria lógica de um termo no Tractatus. Usarei como autores-chave, para destacar essa variante do expressivismo lógico, Anscombe, Geach, Dummett, Diamond e Bouveresse.

 


Profª Luísa Severo Buarque de Holanda

Gêneros Literários em Platão
Partindo da antinomia natureza x convenção, em sua peculiar ligação com o tema da origem das palavras e do estabelecimento da língua, o diálogo Crátilo nos fornece um exemplo privilegiado, em Platão, daquilo que se convencionou chamar de recepção literária. Por meio de um ajustamento entre o tema proposto e a estratégia para atacá-lo, o filósofo acaba por incorporar - e ao mesmo tempo modificar - uma série de gêneros literários já tornados tradicionais, e outra série de gêneros ainda emergentes, cunhando assim o seu próprio gênero literário, ao qual devemos em larga medida a linguagem filosófica tal como a empregamos até hoje. O reconhecimento desse fator é capaz de gerar um viés metodológico bem específico, no tocante à interpretação da obra platônica. Trata-se da abordagem dos diálogos por meio de suas ressonâncias literárias e alusões a obras, filosóficas ou não, de outros autores importantes da tradição helênica, acrescida de uma investigação detalhada e cuidadosa acerca de sua estrutura de composição. Toda obra platônica pode ser analisada sob esse prisma, e tais análises não apenas são fecundas por si mesmas, como podem ser de grande auxílio no que tange à leitura mais propriamente filosófica do texto e do subtexto platônico. Em suma, será o caso de mostrar que as estratégias autorais mais características dos diversos gêneros são adotadas e reinventadas pelo autor Platão, e, ademais, que a importação de tais estratégias para o corpo literário filosófico tem implicações importantes no que diz respeito ao próprio linguajar da filosofia, bem como à história da reflexão filosófica acerca do tema da linguagem.

História da Filosofia da Linguagem na Antiguidade (apoio da Bolsa de Incentivo à Produtividade em Ensino e Pesquisa da PUC-Rio)
O projeto pretende, antes de mais nada, retraçar o percurso das investigações acerca de temas ligados à linguagem na Antiguidade grega, começando por fragmentos de pensadores pré-socráticos tais como Heráclito, Parmênides e Demócrito, passando por diálogos platônicos tais como o Crátilo e o Sofista e pelo Organon aristotélico, e culminando na filosofia estoica. A pesquisa tem como objetivo destacar tanto as heranças temáticas quanto as inovações metodológicas que surgem no referido período de tempo, e entre os pensadores acima mencionados. Da palavra e da sua relação com as coisas designadas até a semântica proposicional e a questão da verdade e da falsidade no discurso, a pertinência dos temas ligados à língua torna-se tanto maior quanto mais se percebe que, no pensamento grego, ele nunca está desvinculado das diversas ontologias e políticas que o fundamentam.

 


Prof. Luiz Camillo Osorio

Os espaços da crítica e os horizontes da política na arte moderna e contemporânea
Pretende-se com esta pesquisa investigar o modo pelo qual uma sistemática desorientação em relação ao que pode ser denominado de ‘obra de arte’ levou, ao longo do século XX, a uma redefinição do papel da crítica e a uma aparente suspensão do ajuizamento. O ponto que me interessa discutir – em oposição a tal suspensão – é a articulação entre este não saber a priori o que seja arte e a necessidade de julgar; o fato de tudo poder ser arte não devendo implicar que qualquer coisa se torne arte. O que produz esta diferença é a capacidade de discernimento do juízo, que se realiza sempre dentro de territórios de sentido específicos. Uma primeira etapa desta pesquisa resultou na publicação do livro Razões da Crítica (Rio de Janeiro: Zahar, 2005). Agora quero ampliar a discussão das noções de juízo e crítica – em Kant, Schiller, Walter Benjamin, Hannah Arendt, Jacques Rancière e Thierry De Duve –, tendo como desdobramento a tentativa de repensar as relações entre arte e política na cena contemporânea. Artigos a partir deste tema serão escritos, assim como, eventualmente, a publicação de um livro reunindo todo o material produzido.

Juízo, crítica e curadoria: deslocamentos da arte na era dos museus (apoiado pelo CNPq)

A cada dia surge um museu novo no planeta.  As feiras de arte e bienais multiplicam-se por toda parte. Em um mundo assolado por uma crise financeira global, a arte se mostra um ativo com taxas de retorno exorbitantes. Será que a arte resiste a esta captura sistemática, mantendo alguma potência estética e insubmissão política? Será que ela ainda é capaz de produzir “ideias estéticas”? Será que ela resiste minimamente aos parâmetros absolutos do mercado? Ainda faz sentido discutirmos ou defendermos alguma autonomia para a arte e a experiência estética? O que pode a arte?  As relações entre estética e política acompanharam a história da arte moderna, seja pelas dificuldades relacionadas ao ajuizamento das obras, seja pela recusa recorrente, por parte da arte, às formas de visibilidade e sociabilidade vigentes. Nosso objetivo será de analisar as condições do ajuizamento, da crítica e seus desdobramentos curatoriais em uma época na qual a arte está inserida irreversivelmente nos museus – mesmo quando atuam fora de seus muros – e estes parecem a serviço da lógica espetacular, do consumo desenfreado e da indústria cultural e do turismo. Como resistir a esta captura e dar à arte alguma liberdade experimental? Como articular arte com uma educação estética e política no interior dos museus?

 


Prof. Luiz Carlos Pinheiro Dias Pereira

Existência e possibilidade de um ponto de vista construtivo (apoiado pelo CNPq-Bolsa PQ)

O projeto que ora apresento é uma continuação e um aprofundamento de alguns temas e questões apresentados no projeto “Verdade, prova e tempo de um ponto de vista construtivo”, submetido em 2008.
Os principais objetivos do presente projeto são:

  1. Propor uma semântica inferencialista para as modalidades aléticas clássicas, em particular para o operador de possibilidade clássico.
  2. Dar prosseguimento à investigação sobre a ideia de um solo comum para a lógica clássica e a lógica intuicionista, com especial ênfase nas modalidades aléticas e na aritmética.
  3. Investigar o papel que uma noção construtiva atemporal/abstrata de existência desempenha em definições construtivas da verdade.

Provas: identidade, estrutura e representação – PIER (apoiado pelo CNPq- Edital Universal MCTI/CNPq No 14/2013)

A Teoria Geral da Prova é o ramo da Lógica que investiga o conceito de prova em todos os seus aspectos e, em particular, a estrutura de provas formais. A Teoria da Prova é uma área naturalmente multidisciplinar, contemplando pesquisas nas áreas da Filosofia, da Matemática e da Ciência da Computação. Apesar dos importantes resultados já obtidos em pesquisas em Teoria da Prova nos últimos oitenta anos, existem ainda muitas questões em aberto, para as quais novos desenvolvimentos nessa área multidisciplinar podem ajudar a responder, mesmo que parcialmente. Uma das questões centrais é certamente a questão da definição de um critério de identidade para provas. Neste projeto, abordaremos o problema da identidade de provas a partir dessa perspectiva multidisciplinar, investigando aspectos filosóficos, matemáticos e computacionais dessa importante questão.

 


Prof. Maxime Rovere

Espinoza. Tradução, anotação e apresentação das obras completas
Por mais de dez anos o projeto de renovação da apresentação dos textos e do pensamento de Espinosa tomou a forma de uma tradução gradual de suas obras, a qual começou com as cartas (Correspondance, GF, 2010), e cujo aspecto teórico foi apoiado por um trabalho monográfico (Spinoza, Méthodes pour exister, Edições CNRS). Desenvolvido em francês com um editor francês (Flammarion), este trabalho continua no Brasil, sendo enriquecido nesta nova fase com novas direções de interpretação.
Nossa tradução da Ética, ainda em preparação, pretende originar um trabalho de anotação coletivo destinado a realçar as diferentes abordagens do texto. Isso será feito tanto em termos da lógica quanto da história social da ciência, e tanto sob a luz da biografia individual quanto das instituições religiosas, políticas e acadêmicas.
Esta reflexão deve gerar uma leitura renovada do texto. De fato, a ordem matemática sugere que a ética é inequívoca, ou seja, que as definições, proposições e demonstrações – e, em menor grau, os escholios – têm todos um valor de verdade matemática. Essa ordem sugere também que as ideias formam um sistema completo de verdades sincrônicas, e que a consistência do assim chamado “sistema” é baseada na plena compatibilidade das suas partes.
Este projeto de pesquisa tem como objetivo desenvolver, em primeiro lugar, a dimensão polifônica e dialógica do texto. Espinosa usa léxicos diferenciados que sugerem vários modos de discurso, desde a lógica estrita até narrativas simples ou conversas mundanas. Esta polifonia rejeita a padronização do texto e ajuda na resolução de muitas dificuldades. Por outro lado, contra a ideia de que todas as teses são válidas simultaneamente, podemos então estudar como o texto, que foi escrito durante mais de quinze anos, forma um caminho diacrônico que consiste em etapas sucessivas cuja continuidade é dinâmica.

Os racionalistas em Amsterdã no século XVII. Para uma nova história da “modernidade”
Em Radical Enlightenment (2001), Jonathan Israel transformou a história da modernidade, propondo a mudança do movimento do “Iluminismo” para Amsterdã na década de 1660. Na sequência desta proposta, este projeto de pesquisa examina as posições daqueles que Wiep Van Bunge chamou mais corretamente de “Francs-Tireurs”, por causa da diversidade das suas abordagens e do fato de que eles acabaram por “atirar” uns sobre os outros.
Este projeto pretende estudar as trocas entre iatroquímicos, anatomistas, entomologistas e metafísicos (Nicolaus Steno, Dirk Kerckrinck, Jan Swammerdam, Bento Spinoza); entre dicionários, enciclopédias e projetos políticos (Lodewijk Meyer Franciscus van den Enden, Adrian Koerbagh); e, finalmente, entre os teólogos cristãos ou judeus (Adam Boreel, Galeno, Abrahamsz, Uriel da Costa, Juan de Prado). A circulação de ideias através de formas diferenciadas torna possível repensar o nascimento da modernidade.
Finalmente, este projeto tem a intenção de usar as ferramentas da história globalizada para pensar a contribuição do Brasil no desenvolvimento de uma modernidade concebida como “europeia”, examinando em especial a importância das trocas de mercado e das histórias de viagens para a teologia e a metafísica modernas, com atenção especial para a comunidade judaica em Recife e a experiência da guerra intercolonial.

Estéticas do deslocamento
O grupo de pesquisa “Estéticas do deslocamento”, dirigido por Maxime Rovere (PUC-Rio) e Olga Kempinska (UFF), tem como finalidade promover a discussão interinstitucional e interdisciplinar acerca das experiências artísticas marcadas pela desterritorialização e pelo translinguismo. Com isso, o grupo almeja dedicar-se à realização de diversas atividades que possam estimular debates sobre a especificidade das poéticas marcadas pela alteridade linguística, da produção dos sentidos entre diversas línguas, da recepção de textos em línguas estrangeiras e da traduzibilidade. O debate sobre a especificidade das estéticas visuais marcadas pela alteridade de tradições heterogêneas será igualmente estimulado. Nesse sentido, a organização de eventos e a publicação de artigos e livros relacionados ao tema das estéticas do deslocamento pretende também contribuir para a formação de alunos de graduação e de pós-graduação.

 


Prof. Oswaldo Chateaubriand Filho

Temas em filosofia da lógica, filosofia da linguagem e filosofia da matemática (apoiado pelo CNPq)

Meu projeto de pesquisa para este e os próximos anos deriva das pesquisas apresentadas em meus livros Logical Forms. Part I: Truth and Description(2001) e Logical Forms. Part II: Logic, Language, and Knowledge (2005). Vários temas tratados nestes livros merecem um desenvolvimento maior, e alguns deles me ocuparam nos últimos anos e estão me ocupando presentemente.

1. Teoria das descrições. No capitulo 3 de Logical Forms, apresentei uma nova teoria de descrições definidas que combina idéias de Frege e de Russell. Nos artigos “Descriptions: Frege and Russell combined” (2002) e “Deconstructing “On Denoting”” (2005), elaborei alguns aspectos da teoria. Também em algumas conferências, especialmente na conferência “A Theory of Descriptions”, apresentada no Logic Colloquium na Universidade da Califórnia em Berkeley em 2006, comecei a elaborar uma extensão da teoria para descrições plurais, que é um problema bastante complicado que pretendo desenvolver em mais detalhe.

2. Sentido, referência e conotação. Nos capítulos 11 e 13 de Logical Forms, apresento uma teoria dos sentidos inspirada em Frege, que combino com idéias de Kripke sobre referência e com idéias descriptivistas de Russell e outros sobre conotação. Tenho elaborado estas idéias em varias conferências nos últimos anos e também no artigo “The truth of thoughts: variations on Fregean themes” (2007, no prelo). Uma continuação deste artigo intitulada “Sense, reference, and connotation”, está planejada para ser publicada em Manuscrito ainda este ano.

3. Predicação, verdade, falsidade e negação. Nos capítulos 1, 6 e 12 deLogical Forms, apresento uma teoria da verdade como denotação de estados de coisas e uma teoria da predicação segundo a qual toda sentença tem estrutura predicativa. Isto permite uma caracterização da falsidade de uma sentença como verdade da negação predicativa desta sentença. Estas idéias também têm sido elaboradas um pouco mais no artigo “The truth of thoughts: variations on Fregean themes” e formam parte do projeto sobre falsidade e negação do PROCAD entre a PUC-Rio, a UFSM e a UFC.

4. Discussão do segundo volume de Logical Forms. Em 2004 foi publicado um número especial de Manuscrito (volume 27 -1) com 11 artigos críticos sobre o primeiro volume de Logical Forms e minhas respostas detalhadas. Está em preparação um outro número especial de Manuscrito (a ser publicado em início de 2008) sobre o segundo volume de Logical Forms, com aproximadamente 20 artigos críticos e minhas respostas. Isto certamente me levará a repensar e elaborar muitas questões tratadas em meu livro.

5. Filosofia da matemática. Sempre foi minha intenção elaborar minhas idéias sobre filosofia da matemática. Questões importantes de filosofia da matemática são tratadas em vários capítulos de Logical Forms, especialmente os capítulos 9, 10, 19, 20, 21 e 25, e também no artigo “Platonism in mathematics” (2005). Pretendo desenvolver estas idéias em mais detalhe em um volume complementar aos volumes de Logical Forms, no qual já estou trabalhando.

 


Prof. Paulo Cesar Duque-Estrada

Linguagem e alteridade
A pesquisa, que vem sendo desenvolvida já há alguns anos, tem como objetivo mais amplo pensar as possibilidades de desdobramento de um pensamento ético a partir das tematizações de Heidegger notadamente em três momentos: 1) o período voltado para o projeto de uma ontologia fundamental; 2) as indicações, na Carta sobre o humanismo, de um novo sentido para a ética, que, para além do paradigma metafísico, passa a ser entendida nos termos do pensamento do ser; e 3) as suas meditações em torno da questão da linguagem. O tema central da pesquisa, tanto nos textos de Heidegger, quanto nos textos de outros autores que, embora leitores de Heidegger, seguem outros caminhos, diz respeito à questão da alteridade: alteridade do ser (Heidegger), da distância a si entendida como tradição (Gadamer), do Outro (Lévinas), do rastro (Derrida).

 


Prof. Pedro Duarte de Andrade

O ensaio como forma na filosofia contemporânea (apoio da bolsa de incentivo à produtividade em ensino e pesquisa da PUC-Rio)

Mais conhecido como comentário cultural, o gênero do ensaio tornou-se essencial para a produção filosófica nos séculos XX e XXI, além de ter sido explicitamente analisado enquanto tal por autores como Georg Lukács, Walter Benjamin, Theodor Adorno e Michel Foucault. O estilo do ensaio, pessoal e atento à sua própria linguagem, traria um pensamento experimental, sem sistematização exaustiva do saber; atento às singularidades, por oposição à universalização lógica; com interpretações sem originalidade absoluta, mas apenas relativa; e uma preferência pela análise de obras de arte como instâncias críticas da sociedade. O objetivo deste projeto é triplo: analisar o estilo do ensaio enquanto prosa filosófica; mapear suas principais expressões contemporâneas; e investigar o contexto histórico que o tornou central para a filosofia atual.

Filosofia, literatura e arte
O objetivo deste projeto é analisar a importância da arte, em especial da literatura, para a filosofia, e descrever como se dá esse encontro produtivo entre elas a partir de casos singulares de filósofos que pensaram artistas e de artistas que instigaram filósofos. Se a filosofia já atacou a literatura, como Platão com Homero, e a interpretou, como Hegel com Sófocles, por sua vez a literatura já deu o que pensar à filosofia, como Hölderlin com Heidegger. Sobretudo desde o Romantismo, a literatura tornou-se mais que ilustração para teorias de filósofos. Walter Benjamin, Theodor Adorno, Gilles Deleuze, Michel Foucault e outros pensaram junto à literatura, com ela, através dela. O contato entre filosofia e arte foi decisivo para o pensamento contemporâneo e crítico, que destaca o caráter filosófico da literatura e o caráter literário da filosofia.

Filosofia antropofágica
Tomada em geral como explicação da cultura brasileira, a idéia da antropofagia, formulada por Oswald de Andrade nos anos 1920, pode ser entendida como uma filosofia, isto é, como modo de pensar firmado em uma ontologia e do qual derivam uma epistemologia, uma estética, uma ética e uma filosofia da história. O objetivo deste projeto é explicitar tal filosofia antropofágica, que defende a transformação do mesmo pelo outro, e não a transformação do outro no mesmo. Isso será feito pela análise da doutrina modernista brasileira e da obra de Oswald de Andrade, incluindo os seus textos filosóficos; das fontes aí implicadas, como Montaigne, Marx e Freud; da sua origem na prática indígena de canibalismo; e de seus desdobramentos no pensamento em canção de Caetano Veloso e no pensamento em arte de Hélio Oiticica.

 


Prof. Rodrigo Nunes Guimarães

Imanência e ontologias pós-críticas
Em que pese boa parte da filosofia do século XX ter se autocompreendido em termos de uma superação definitiva da metafísica, questões e debates especulativos voltaram à pauta filosófica com força na última década. Não se trata, contudo, de um mero retorno a um dogmatismo pré-kantiano, mas de uma possibilidade interna ao espaço definido pela filosofia crítica, que se desenvolve na busca de uma redefinição do sentido e papel da filosofia não apenas em sua relação prática com o mundo, mas também em suas interfaces com diferentes áreas (biologia, física, matemática, ciência cognitiva). Para entender de que maneira diferentes projetos contemporâneos podem ser descritos como ontologias pós-críticas – especulativas e criticas ao mesmo tempo –, proponho o conceito de imanência como chave de leitura dos problemas que, iniciando na modernidade (com Spinoza, Kant, Hegel, Marx) vem desaguar na filosofia contemporânea.

Política em rede e a questão da organização
Há pelo menos uma década, estruturas reticulares ad hoc são identificadas como a forma característica de organização dos novos movimentos sociais, e elas são apresentadas como resolvendo problemas (como a burocratização, hierarquização e falta de transparência) de formas anteriormente existentes, como partidos e sindicatos. Ao mesmo tempo críticos da organização em rede a vêem como carecendo de capacidade de decisão e ação conjunta e tendendo à impermanência. No mais das vezes, a discussão gira em torno de estéreis tomada de partido entre “velho” e “novo”. Amparando-se tanto em debates clássicos sobre a questão da organização (em particular, mas não exclusivamente, na tradição marxista) quanto em aportes da filosofia contemporânea (pós-estruturalismo, pós-operaismo, pensamento sistêmico) e da ciência (teoria das redes), bem como de relatos e análises de fenômenos recentes como a Primavera Árabe e o movimento Occupy, busca, num primeiro momento, descrever de maneira rigorosa as formas emergentes de organização que caracterizam os movimentos sociais e políticos contemporâneos. Disto resulta tanto uma compreensão mais balanceada de suas vantagens e limites, como redefinições de conceitos como vanguarda, liderança, espontaneísmo e representação, propondo um vocabulário comum para além da oposição entre “velhas” e “novas” formas. Mais que uma tarefa meramente descritiva, contudo, a pesquisa se baseia na aposta de que é possível, a partir daí, promover uma reflexão consciente e um aprofundamento destas formas emergentes de organização, ressituando questões como subjetividade política, iniciativa e estratégia num novo terreno.

Política e poética no cinema brasileiro dos anos 60 e 70
O período que se estende dos anos 50 à metade dos 70 foi provavelmente o mais fértil da história cultural brasileira; e um dos problemas centrais para a série de propostas artísticas singulares surgidas no período (concretismo, neoconcretismo, Teatro do Oprimido, tropicalismo, cinema novo) é a questão do papel social e político da arte e do artista – ou, dito de forma mais geral, da cultura e do produtor de cultura. Este projeto se propõe a analisar o cinema brasileiro dos anos 60 e 70, perguntando como estes debates (e suas condições políticas e culturais mais amplas) se inscrevem nele. O interesse em fazer isto, contudo, não é meramente historiográfico: resgatar as diferentes propostas artístico-culturais do período, e elucidá-las a partir dos problemas a que buscavam dar resposta, tem como objetivo final relançar as mesmas perguntas de então no presente: quais são as continuidades e descontinuidades entre os problemas de então e os de hoje? O que permanece de atual nas soluções criadas naquele período, e o que precisa ser pensado? Trata-se, em última análise, de projetar uma época de intensa pesquisa e discussão sobre a dimensão social e político da cultura e dos produtores culturais sobre a época atual, de forma a indagar como as ideias de quase 50 anos atrás podem nos ajudar a pensar as mesmas questões dentro das atuais condições sociais e tecnológicas.